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55 anos da Federação

Fortalecer a perspectiva classista na luta contra o imperialismo e o neoliberalismo


por João Batista Lemos

Mensagem transmitida pela CSC - Corrente Sindical Classista do Brasil durante reunião das Correntes Sindicais Classistas Revolucionárias da América Latina em Quito, Equador, no dia 10 de julho deste.

Camaradas!


Agradeço, em nome da Corrente Sindical Classista do Brasil, o convite que me foi feito para participar do congresso da Confederação dos Trabalhadores Equatorianos (CET) e quero dizer que nos sentimos honrados em poder participar deste importante evento do sindicalismo classista. 


Penso que vivemos, hoje, um momento de grandes lutas e desafios para a classe trabalhadora e o sindicalismo classista em toda a América Latina. Se, de um lado, persiste na região a forte ofensiva do capital financeiro e das potências imperialistas contra os direitos sociais e os interesses nacionais, desencadeada em nome de uma obscura "globalização", de outro ângulo podemos observar a crescente resistência e ativa oposição das massas trabalhadoras às políticas neoliberais impostas pelas classes dominantes.


A reação popular vem se desdobrando em vitórias eleitorais significativas de partidos e forças progressistas. Cabe destacar os êxitos políticos obtidos pelo presidente Hugo Chá vez na Venezuela. Ali ocorre uma experiência revolucionária, que tem caráter ao mesmo tempo antiimperialista e anti-capitalista; que se propõe o corajoso e ousado objetivo de construir o "socialismo do século 21"; que conta com amplo apoio popular, mas também enfrenta a poderosa e rancorosa reação da grande burguesia em todo o mundo, regida pelo imperialismo americano. No Equador, igualmente, o povo conquistou uma grande vitória com a eleição de Rafael Correia, um líder disposto a enfrentar o imperialismo, renegociando soberanamente a dívida externa, e abrir caminho às transformações sociais profundas reclamadas pelos trabalhadores. 


Os fatos políticos em desenvolvimento na América Latina evidenciam que o sistema imperialista hegemonizado pelos EUA é o grande inimigo dos povos. Nossa tarefa número um é combatê-lo, nosso desafio estratégico é derrotá-lo. E será através desta luta que conseguiremos abrir caminho a um futuro de justiça social, emancipação da classe trabalhadora, superação do capitalismo e construção de uma nova experiência socialista neste século 21.


O inimigo é grande e poderoso, mas não é imbatível e já se vê que tem os pés de barro. O poderio econômico dos EUA declina frente às potências rivais da Europa e da Ásia; a ordem monetária fundada na supremacia do dólar está em decomposição, com o país precisando captar mais de US$ 3 bilhões no exterior diariamente para impedir o colapso da moeda, numa prova de escandaloso parasitismo.


A autoridade política do império também definha. A estratégia imperialista do governo Bush para o Oriente Médio, em especial as guerras criminosas contra o Iraque e o Afeganistão, repudiadas inclusive pelo povo norte-americano, estão a caminho de uma retumbante derrota, o que de resto nos revela os limites da superioridade militar do império.


Na América Latina ganha corpo a rebeldia contra o domínio neocolonial de Washington; o projeto de uma Área de Livre Comércio das Américas (Alca) naufragou; o Mercosul está se fortalecendo; foi instituída a ALBA, uma iniciativa mais ousada de integração solidária; o comércio Sul-Sul está em expansão, reduzindo a dependência dos mercados estadunidense e europeu, blindados pelo protecionismo.


A vertiginosa ascensão da China à condição de potência econômica, nos marcos do desenvolvimento desigual das nações, cria um contraponto importante e progressista ao unilataralismo da Casa Branca, fortalecido pela recomposição da Rússia. Tudo isto configura uma nova realidade geopolítica no mundo e em particular na América Latina, uma mudança que parecia inimaginável há apenas 10 anos.


Camaradas!


Não devemos nos surpreender com as derrotas que o neoliberalismo vem amargando. Afinal, as receitas neoliberais, impostas aos países latino-americanos sob a supervisão do moribundo Fundo Monetário Internacional, agravaram sobremaneira o processo de espoliação imperialista das economias nacionais, ampliando a desnacionalização, a dependência e a vulnerabilidade externa, viabilizando o pagamento da dívida à custa de uma dramática redução do ritmo de crescimento da renda per capita.


De acordo com estatísticas da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), entre 1980 e 2000 o PIB per capita estagnou na América Latina e só ao longo dos últimos anos voltou a crescer, refletindo a mudança do ambiente político e econômico. As nações da região perderam terreno e ficaram para trás em comparação com os países pobres e de renda média da Ásia, que em sua maioria rejeitaram o neoliberalismo.


Quem mais tem sofrido os efeitos do retrocesso social é a classe trabalhadora, já que as taxas de desemprego foram elevadas a um novo patamar histórico; a participação dos salários nos PIBs declinou; conquistas e direitos arrancados ao longo de uma luta secular têm sido abolidos ou flexibilizados e as relações entre capital e trabalho estão a cada dia mais precarizadas.


Ao lado das políticas neoliberais, fatores associados ao desenvolvimento objetivo do capitalismo, como a introdução de novos tecnologias e métodos gerenciais, configurando a chamada reestruturação produtiva, também contribuíram para alterar a realidade da classe trabalhadora, mudando seu perfil, aumentando o grau de exploração, influenciando inclusive a subjetividade operária. Faz-se necessário intensificar a luta ideológica para reafirmar a centralidade do trabalho nas batalhas políticas para a transformação social e o desenvolvimento econômico soberano das nações latino-americanas.


A repulsa dos povos às políticas neoliberais é patente e não é difícil concluir que as derrotas eleitorais impostas às forças da direita, representantes do capital financeiro, ecoam o clamor das ruas por novos rumos. Porém, em muitos lugares, como é o caso do Brasil, ainda não está muito claro o caminho a seguir, o conservadorismo é poderoso e as pressões e ameaças de novos retrocessos vêm sendo intensificadas.


É neste contexto que emerge a necessidade de uma intervenção mais firme e ousada do sindicalismo classista.


Reconhecemos no Brasil a prioridade da luta pelo desenvolvimento econômico, mas estamos imbuídos de uma concepção classista do desenvolvimento nacional. Entendemos que a valorização da força de trabalho - com redução das jornadas, recuperação e aumento dos salários reais, reforma agrária, pleno emprego e preservação e ampliação dos direitos sociais - deve ser a fonte do crescimento econômico através do fortalecimento dos mercados internos.  Defendemos desenvolvimento com soberania, respeito ao meio ambiente e integração econômica e política solidária dos povos, o que não é possível no âmbito do sistema capitalista-imperialista. Por esta razão, não podemos perder de vista a perspectiva socialista.


É indispensável travar uma firme batalha política e ideológica contra o sindicalismo social-democrata e as concepções que pregam a conciliação de classes (ofuscando a perspectiva antiimperialista e anticapitalista da nossa luta), hegemônicas na Confederação Sindical Internacional (CSI), que resultou da recente fusão entre CIOSL e CMT.


Em contrapartida, é preciso ampliar os esforços visando a reorganização e o fortalecimento da Federação Sindical Mundial (FSM), cabendo neste sentido chamar a atenção para a importância das iniciativas de União Internacional dos Sindicatos por ramos como as que devem reunir lideranças operárias do setor energético em setembro deste ano, no México, e dos transportes, em novembro, no Brasil.


Devemos conferir atenção, urgência e prioridade à proposta de instalação de um Fórum Sindical das Américas, agregando organizações sindicais e movimentos sociais e construindo um espaço sindical capaz de reunir o mais amplo leque de forças que atuam no movimento sindical latino-americano, independentemente da filiação às centrais, locais ou internacional. É imperativo realizar um encontro amplo de sindicalistas, se possível ainda no curso deste ano, para realizar este objetivo.


Camaradas!


Devemos procurar consolidar a união entre as Correntes Sindicais Classistas do hemisfério e avançar na direção de lutas e reivindicações conjuntas, por exemplo, no âmbito do Mercosul, tendo em conta os interesses imediatos e futuros da classe trabalhadora. Lembremos que em 2007 comemoram-se os 90 anos da gloriosa revolução soviética, comandada por Lênin, que devemos homenagear reavivando a luta estratégica pelo socialismo.


No exercício cotidiano da solidariedade classista e do internacionalismo proletário cabe destacar sempre o apoio à resistência heróica da revolução cubana, ancorada na unidade do povo e firmeza ideológica dos seus dirigentes. O imperialismo recorre à guerra para contornar a crise, o capitalismo caminha para a barbárie. A humanidade não terá futuro fora do socialismo.


Viva o socialismo do século 21!


Total solidariedade a Cuba e à revolução bolivariana da Venezuela!


Abaixo o imperialismo e o unilateralismo estadunidense!


João Batista Lemos, Secretário Sindical do Comitê Central do PCdoB; ex-metalúrgico do ABC Paulista; Coordenador Nacional da CSC - Corrente Sindical Classista.

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