Trabalhadores pagarão a conta da crise global
Gustavo Capdevila
Genebra, 18/03/2008(IPS) - Dirigentes sindicais internacionais alertaram representantes de governos, empregadores e o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, que o peso das atuais turbulências financeiras recairá nos trabalhadores.
O resultado líquido da crise financeira mundial, causado pelo estouro do mercado das hipotecas de alto risco nos Estados Unidos, representará uma perda de empregos, como ocorreu o passado, previu Roy Trotman, representante da Conferencia Sindical Intencional.
Trotman, de Barbados, que preside o grupo os trabalhadores na Organização Internacional do Trabalho (OIT), alertou que as turbulências financeiras "afundarão os trabalhadores mais pobres ainda mais na marginalização da sociedade". Outra conseqüência dos desajustes será que "colocaremos em perigo os modestos progressos obtidos" na busca pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, as oito metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas para reduzir até 2015, pela metade, a proporção de indigência e fome no mundo, entre outros propósitos, disse o sindicalista. Os trabalhadores e suas famílias não poderão satisfazer suas necessidades básicas, alertou Trotman durante um debate sobre as repercussões da crise financeira internacional realizado ontem no Conselho de Administração, órgão máximo da OIT. A discussão se baseou em um estudo preparado pela entidade em fevereiro, onde explica como as irregularidades financeiras transbordaram nos Estados Unidos o mercado da moradia, com repercussões negativas o emprego, nas vendas do varejo e outros indicadores.
O informe diz que "a profundidade e duração de uma desaceleração ou recessão nos Estados Unidos ainda são incertas". A mesma incerteza predomina com relação à propagação do fenômeno a outros países, acrescenta. Trotman relacionou a presente crise com outras sacudidas financeiras como as ocorridas nas duas ultimas décadas na Rússia e na Ásia. Todas essas crises trouxeram a questão fundamental da falta de um "gerenciamento adequado dos mercados financeiros", ressaltou. Os mercados não podem resolver por conta própria estas crises, que acabam afetando o sustento de homens e mulheres trabalhadores, insistiu.
Zoellick encontrou notórias diferenças entre o que ocorre agora e as crises dos anos 80 e 90 porque atualmente prossegue o crescimento econômico em alguns países de renda media onde se aprecia um desenvolvimento saudável. "Por essa razão, agora contam com múltiplos pólos de crescimento", afirmou. As crises anteriores começaram nos países em desenvolvimento, mas agora tudo teve início nas nações industriais, acrescentou. China e Índia mostram um bom crescimento, o que determina que sigam no mesmo caminho do Brasil e de outros países emergentes, afirmou.
O presidente do Banco Mundial recordou que quando surgiram as primeiras turbulências financeiras em meados de 2007 houve um aumento do risco nas economias emergentes. Mas esse setor de países depois melhorou. Observando alguns governos em desenvolvimento pode-se ver que estão agindo acertadamente, disse Zoellick. Nesse aspecto, o estudo da OIT sugere que os países em desenvolvimento poderiam reduzir e contra-atacar os efeitos da crise por meio de uma política de redução da dependência das exportações como motor do crescimento mediante o fomento do consumo interno e o investimento em geração de empregos. Isto seria especialmente possível nas nações que contam com uma margem fiscal e de conta estrangeira suficiente para poder enfrentá-los, afirma o documento.
A OIT descreve os mercados financeiros como a parte mais integrada da economia mundial. Por esse motivo, a restrição do credito nos Estados Unidos e em outros países industrializados repercute nas empresas e nos postos de trabalho de todo o mundo, afirma a entidade. A falta de credito também afeta o investimento e o consumo. Assim, alcança igualmente a produção dos países ricos e, através dos vínculos comerciais, as nações em desenvolvimento. O estudo admite que não se sabe com certeza a severidade, duração e extensão da restrição do crédito e quanto afetará a produção e o emprego.
Nesse quadro, a OIT lembra que seu Programa de Trabalho Decente oferece ferramentas de política que têm maior pertinência em um período de desaceleração do crescimento. Entre esses instrumentos menciona o programa global de emprego e o mecanismo de diálogo social baseado nas normas internacionais do trabalho. A representante norte-americana no Conselho de Administração da OIT, Charlotte Ponticelli, objetou as conclusões extraídas pelo estudo da crise do mercado hipotecário dos Estados Unidos, que foi o estopim da atual turbulência. Ponticelli considerou que o documento da OIT seria mais proveitoso se estivesse concentrado nas soluções do problema, em lugar de seu diagnostico. (IPS/Envolverde) (FIN/2008)
Genebra, 18/03/2008(IPS) - Dirigentes sindicais internacionais alertaram representantes de governos, empregadores e o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, que o peso das atuais turbulências financeiras recairá nos trabalhadores.
O resultado líquido da crise financeira mundial, causado pelo estouro do mercado das hipotecas de alto risco nos Estados Unidos, representará uma perda de empregos, como ocorreu o passado, previu Roy Trotman, representante da Conferencia Sindical Intencional.
Trotman, de Barbados, que preside o grupo os trabalhadores na Organização Internacional do Trabalho (OIT), alertou que as turbulências financeiras "afundarão os trabalhadores mais pobres ainda mais na marginalização da sociedade". Outra conseqüência dos desajustes será que "colocaremos em perigo os modestos progressos obtidos" na busca pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, as oito metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas para reduzir até 2015, pela metade, a proporção de indigência e fome no mundo, entre outros propósitos, disse o sindicalista. Os trabalhadores e suas famílias não poderão satisfazer suas necessidades básicas, alertou Trotman durante um debate sobre as repercussões da crise financeira internacional realizado ontem no Conselho de Administração, órgão máximo da OIT. A discussão se baseou em um estudo preparado pela entidade em fevereiro, onde explica como as irregularidades financeiras transbordaram nos Estados Unidos o mercado da moradia, com repercussões negativas o emprego, nas vendas do varejo e outros indicadores.
O informe diz que "a profundidade e duração de uma desaceleração ou recessão nos Estados Unidos ainda são incertas". A mesma incerteza predomina com relação à propagação do fenômeno a outros países, acrescenta. Trotman relacionou a presente crise com outras sacudidas financeiras como as ocorridas nas duas ultimas décadas na Rússia e na Ásia. Todas essas crises trouxeram a questão fundamental da falta de um "gerenciamento adequado dos mercados financeiros", ressaltou. Os mercados não podem resolver por conta própria estas crises, que acabam afetando o sustento de homens e mulheres trabalhadores, insistiu.
Zoellick encontrou notórias diferenças entre o que ocorre agora e as crises dos anos 80 e 90 porque atualmente prossegue o crescimento econômico em alguns países de renda media onde se aprecia um desenvolvimento saudável. "Por essa razão, agora contam com múltiplos pólos de crescimento", afirmou. As crises anteriores começaram nos países em desenvolvimento, mas agora tudo teve início nas nações industriais, acrescentou. China e Índia mostram um bom crescimento, o que determina que sigam no mesmo caminho do Brasil e de outros países emergentes, afirmou.
O presidente do Banco Mundial recordou que quando surgiram as primeiras turbulências financeiras em meados de 2007 houve um aumento do risco nas economias emergentes. Mas esse setor de países depois melhorou. Observando alguns governos em desenvolvimento pode-se ver que estão agindo acertadamente, disse Zoellick. Nesse aspecto, o estudo da OIT sugere que os países em desenvolvimento poderiam reduzir e contra-atacar os efeitos da crise por meio de uma política de redução da dependência das exportações como motor do crescimento mediante o fomento do consumo interno e o investimento em geração de empregos. Isto seria especialmente possível nas nações que contam com uma margem fiscal e de conta estrangeira suficiente para poder enfrentá-los, afirma o documento.
A OIT descreve os mercados financeiros como a parte mais integrada da economia mundial. Por esse motivo, a restrição do credito nos Estados Unidos e em outros países industrializados repercute nas empresas e nos postos de trabalho de todo o mundo, afirma a entidade. A falta de credito também afeta o investimento e o consumo. Assim, alcança igualmente a produção dos países ricos e, através dos vínculos comerciais, as nações em desenvolvimento. O estudo admite que não se sabe com certeza a severidade, duração e extensão da restrição do crédito e quanto afetará a produção e o emprego.
Nesse quadro, a OIT lembra que seu Programa de Trabalho Decente oferece ferramentas de política que têm maior pertinência em um período de desaceleração do crescimento. Entre esses instrumentos menciona o programa global de emprego e o mecanismo de diálogo social baseado nas normas internacionais do trabalho. A representante norte-americana no Conselho de Administração da OIT, Charlotte Ponticelli, objetou as conclusões extraídas pelo estudo da crise do mercado hipotecário dos Estados Unidos, que foi o estopim da atual turbulência. Ponticelli considerou que o documento da OIT seria mais proveitoso se estivesse concentrado nas soluções do problema, em lugar de seu diagnostico. (IPS/Envolverde) (FIN/2008)