Local de trabalho, de estudo e de moradia é local de luta política

Por José Souza
Na Grécia antiga existia uma sociedade extratificada, composta de cidadãos, soldados e escravos. Nela os cidadãos não trabalhavam, eles só se ocupavam dos assuntos da cidade. E somente eles tinham o direito de voto. Os soldados se encarregavam de garantir a segurança da polis. E o que faziam os escravos? Esses só tinham a tarefa de garantir o sustento dos cidadãos e dos escravos. Tarefinha simples, não? Nem preciso lembrar que os trabalhadores e soldados não tinham direitos políticos.
Bem. Mas isso foi há mais de 2.500 anos. Estamos no tempo que alguns dizem que é a pós-modernidade. De vez em quando a gente se depara com idéias marotas, com ar de avançadas, mas, quando vamos analisá-las, vemos que elas são resquícios da antiguidade.
De certa forma foi o que passou a matéria do Jornal da Cidade, ‘Sindicalismo se torna meio de vida - Deixando de lado o trabalho, alguns sindicalistas sergipanos já estão à frente das entidades há 18 anos', publicada nos dias 25 e 26 deste mês. Nela o JC requentou uma concepção de que os trabalhadores não devem ter direitos políticos e construir instituições que defendam seus direitos. A matéria quis passar para o leitor a idéia de que quem milita no movimento sindical não trabalha. Pelo contrário. Sindicalista, que é sindicalista mesmo, trabalha muito mais do que se estivesse na sua repartição.
A matéria de página inteira do JC botou todo sindicalista num mesmo patamar, como se fosse tudo 'farinha do mesmo saco', e não é bem por aí. Eu, pessoalmente, estou à frente de um sindicato há apenas quatro meses. Tomei posse, após uma eleição disputadíssima - diferente de muitos que se perpetuam no poder em sucessivas eleições com chapa única -, há apenas quatro meses, no dia 2 de julho.
É verdade que estou afastado desde 1991, mas isso não quer dizer que vivo de benesse. Além disso, não houve contraponto. A matéria passa uma visão unilateral. Ela é extensa, mas faltou o viés patronal (antiga). Por que não tocaram em nada nessas entidades? Os patrões, sim, dirigem entidades muito mais poderosas que a dos trabalhadores.
Dizer que sindicalista não pode ser candidato a um cargo eletivo é mais uma visão patronal (da antiguidade). Por que padre, pastor, treinador de futebol, radialista, jornalista, bancário, professor etc pode ser candidato e sindicalista não? É só sindicalista que usa seu trabalho como trampolim político é? Essa é a ordem natural das coisas.
A matéria passou a intenção clara de querer desmoralizar o sindicalismo (os trabalhadores). Dizer que sindicalista vive no ócio, trabalhando sem receber, é querer generalizar uma classe inteira. E isso não é verdade. A propósito, não custa lembrar uma idéia. Essa, sim, bastante atual: local de trabalho, de estudo e de moradia, é local de luta política.
José Souza é presidente do Sindicato dos Bancários do Estado de Sergipe

