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9º Encontro da Juventude Bahia e Sergipe

No lugar do coração, um cofre

Os bancários de todo o Brasil estão em campanha salarial unificada, buscando melhores condições de trabalho e de salário. O índice de reajuste salarial pleiteado pela categoria é de 12,5%, que corresponde a reposição da inflação do período (setembro de 2013 à setembro de 2014) e mais 5,4% de aumento real.

Até o momento, após várias rodadas de negociações, os banqueiros se negaram a atender as reivindicações dos trabalhadores. O Brasil possui hoje 125 bancos filiados à FENABAN – Federação Nacional dos Bancos. No ano passado, apenas 4 desses bancos que atuam no nosso território tiveram um lucro líquido equivalente ao PIB de 83 países. Algo em torno de 60 bilhões de reais. Este ano, até agora as cifras já se aproximam dos R$ 30 bilhões. O Sistema Financeiro é o setor da economia que mais ganha dinheiro no país e nada justifica a sua negativa em relação ao pleito dos bancários.

A grande maioria dos seguimentos econômicos, menos lucrativos que os bancos, já deram aumento aos trabalhadores acima da inflação. De acordo com o levantamento realizado pelo DIEESE, 93% das 340 negociações coletivas analisadas no primeiro semestre de 2014, tiveram aumento salarial superior ao INPC-IBGE, ou seja, houve ganho real no salário.

A cada dia o trabalho bancário configura-se como uma atividade de risco. No entanto, questões importantes que dizem respeito às condições de trabalho, saúde e segurança também foram negadas pelos banqueiros. O número de ocorrências que envolvem sequestros, assaltos, explosões, saidinhas bancárias, etc vem tomando proporções assustadoras. O Sindicato dos Bancários da Bahia registrou 136 ataques a bancos no Estado - de janeiro até 11 de setembro de 2013. Este ano, até o dia 08/09/2014, já são 160. Mas os banqueiros, que podem ter seus "prejuízos" ressarcidos pelos seguros, parecem não se importarem muito com a vida dos bancários e clientes. Certa vez, uma bancária disse que "no lugar do coração de um banqueiro tem um cofre."

De acordo com pesquisa anual que antecede a Campanha Salarial, realizada pelo Sindicato dos Bancários da Bahia, houve um aumento no número de afastamento por doença ocupacional e no número de bancários que fazem uso de medicamentos controlados tarja preta. No ano de 2013, 18% da categoria informou ter se afastado por doença ocupacional. Em 2014, esse percentual subiu para 24%. No que se refere aos usuários de medicação controlada, o percentual que era de 20% em 2013, passou para 24% em 2014. Lamentavelmente muitos bancários estão sendo demitidos mesmo doentes, porém, o Sindicato vem obtendo êxito na reintegração desses trabalhadores.

O quadro de adoecimento da categoria está se agravando a cada ano e tem como causas principais a sobrecarga de trabalho, a violência, a pressão por metas, o assédio moral e a incerteza em relação à manutenção do emprego. Entre 2012 e 2013 houve uma redução de 18.023 postos de trabalho nos bancos privados. Isto representa uma diminuição de 6,3% no número do emprego bancário deste seguimento no Brasil. Nos bancos públicos, houve um aumento de 17.021 novos empregos, um acréscimo de 7,5% no mesmo período em âmbito nacional.

No entanto, nos sete primeiros meses deste ano o saldo é negativo. Foram cortados 3.600 postos de trabalho de janeiro a julho de 2014. Este número poderia ter sido pior se não fosse a contratação de novos 1.595 bancários pela Caixa Econômica Federal neste ano. O que se observa é que dos últimos anos até agora os bancos, principalmente os privados, estão na contramão da geração de empregos no país. Neste mesmo período (janeiro a julho de 2014) o Brasil inseriu 632.224 novos trabalhadores formais no mercado de trabalho.

Os clientes e usuários de bancos também são vítimas desse processo na medida em que há escassez de funcionários nas agências para atendê-los, perdem muito tempo na fila, pagam tarifas e juros abusivos, eles próprios fazem operações que deveriam ser feitas por bancários, não contam com segurança adequada, etc. Não é à toa que os bancos aparecem entre as empresas mais reclamadas nos órgãos de defesa do consumidor.

Dados apontam que o volume do trabalho nos bancos aumentou, pois a população hoje tem mais acesso aos serviços bancários. No entanto, infelizmente, o nível de emprego nos bancos não acompanhou esse crescimento por conta da mesquinhez dos banqueiros que querem maximizar o seu lucro sem oferecer uma contrapartida digna para seus empregados e para a sociedade.

Vejamos:

Levantamento realizado pelo DIEESE revela que, enquanto nos bancos privados o número de bancários foi reduzido em 6,3%, o número de contas correntes aumentou 6% entre 2012 e 2013, chegando a 103 milhões. De acordo com o Banco Central, entre 2009 e 2013 houve um crescimento médio anual de 6% nas contas correntes e 8% nas contas poupança, que só de 2012 para 2013 aumentaram 12%. Já o número de contas correntes por agência aumentou em média 3%, chegando a 4.511 correntistas por agência. E nos últimos 6 anos, a disponibilidade do crédito como porcentagem do PIB cresceu cerca de 24 pontos percentuais e saiu de 32% em julho de 2007 para 56%, em julho de 2014.

Com isso, podemos concluir que há uma elevação significativa da sobrecarga de trabalho sobre os bancários, o que justifica o alto índice de adoecimento da categoria e ao mesmo tempo há também a transferência do trabalho, que deveria ser feito pelo funcionário da instituição financeira, para o próprio cliente e usuário. Resta saber se o banqueiro irá ressarcir o prejuízo causado por um eventual erro cometido pelo próprio cliente que se "auto-atendeu" nos chamados canais alternativos de atendimento.

Neste sentido, podemos dizer que todos nós somos vítimas dos banqueiros. A pressão das entidades sindicais dos bancários já proporcionaram vitórias importantes para a categoria e para a população, como a instalação das portas giratórias, a lei dos 15 minutos de espera, a implantação de biombos em algumas unidades e queremos que seja em todas, banheiros para clientes, redução dos juros nos bancos públicos, etc. No entanto, levando em consideração os números citados acima, tudo o que foi conquistado ainda está aquém daquilo que é necessário para se traduzir em benefícios concretos para a sociedade. Por isso, muito ainda precisa ser feito.

Os banqueiros têm total condição de atender todas as reivindicações dos bancários. E diante do descaso demonstrado por eles até agora nas mesas de negociação, a greve parece ser inevitável. Os donos dos bancos enchem os bolsos de dinheiro às nossas custas e é um direito nosso exigir a contrapartida que nos cabe. Portanto, é fundamental o apoio e o envolvimento de todos nesta luta.

Fontes:
Banco Central do Brasil.
FENABAN – Federação Nacional dos Bancos.
DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos.
SBBA - Sindicato dos Bancários da Bahia.

elder Elder Fontes é graduado em Administração de Empresas, pós-graduado em Psicologia Organizacional, Coordenador Regional do DIEESE-BA, Diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia, graduando em Psicologia.

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