Copom mantém taxa Selic em 8,75%
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, formado pelos diretores e pelo presidente da instituição, de manter novamente a taxa básica de juros inalterada em 8,75% ao ano ficou dentro da expectativa do "mercado", mas desagradou, novamente, as entidades sindicais dos trabalhadores e patronais que esperavam uma atitude menos conservadora do BC.
Essa
foi a terceira manutenção consecutiva da taxa Selic, que está neste
patamar desde 22 julho deste ano. A decisão de manter os juros mais uma
vez foi unânime e sem viés, de modo que a taxa deve permanecer em 8,75%
ao ano até a próxima reunião do Copom - marcada para 26 e 27 de janeiro.
Com a manutenção da Selic em 8,75%, o Brasil permanece na desonrosa
segunda colocação entre os países com a maior taxa de juros reais
(juros nominais menos a inflação em 12 meses) do mundo, com 4,2%, atrás
apenas da China (5,8%).
Quando se leva em consideração apenas a taxa de juros nominal, o Brasil
aparece na quarta colocação entre as maiores do mundo, atrás de
Venezuela (17,53%), Argentina (9,8%) e Rússia (9%).
Veja o que analistas de mercado e entidades civis acharam da decisão do Copom:
Wagner Gomes, presidente da CTB
A CTB considera inadequada a decisão tomada pelo Copom. Para o
presidente da entidade, Wagner Gomes, o atual cenário econômico
brasileiro permite que a taxa de juros seja reduzida. “A Selic tem que
cair bem mais. As quedas ocorridas ao longo desta ano não são
suficientes. Lamentamos mais uma vez que o Banco Central continue
impedindo um crescimento mais robusto do Brasil”, afirmou.
Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical
"Continuamos com uma taxa que asfixia a produção, inibe o consumo e,
conseqüentemente, a abertura de novos postos de trabalho. É um erro
estratégico, uma miopia econômica, que, com certeza, irá causar um
impacto negativo na economia do primeiro semestre de 2010".
Artur Henrique, presidente nacional da CUT
"O final de ano merecia uma notícia mais animadora. Manter a taxa
básica de juros nos patamares atuais não é das melhores. Apesar do
processo de queda observado ao longo do ano – que para nós já era
tímido – a taxa brasileira continua alta demais. Insistimos que o
movimento de queda deveria ter sido mantido (...)".
José Arthur Assunção, presidente do Sindicato das Financeiras do estado do Rio de Janeiro (Secif-RJ)
"É preciso lembrarmos, a cada dia, que o Brasil mudou de status
internacionalmente. Nós não precisamos mais trabalhar com juros
altíssimos para atrair capital estrangeiro, por exemplo. Muito pelo
contrário. Já fazemos parte de um seleto rol de nações. E é crendo
nisso fielmente que penso ser até possível uma redução dos juros no ano
que vem".
Abram Szajman, presidente da Fecomercio-SP
"O Banco Central tende a elevar os juros, mantendo a valorização
cambial, a despeito dos efeitos negativos sobre o produto nacional e do
absoluto controle dos preços".
Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
"A inflação sob controle e a restrição do crédito bancário de origem
privada justificam uma taxa de juros mais reduzida. Essa situação (dos
juros altos) limita a retomada dos investimentos e retarda nossa
recuperação, comprometendo o emprego e a produtividade".
Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios
"Ainda havia capacidade ociosa nos setores produtivos suficiente para
justificar a manutenção da taxa de juros, embora a economia esteja
aquecida. Quando o uso da capacidade instalada chegar em níveis
pré-crise, o Copom vai aumentar os juros, esse é o recado que eles
deram. Isso deve acontecer em março ou abril."
Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)
"Neste momento, a maioria dos países pratica taxa de juros básicas
reais próximas a zero. Além disso, há bastante capacidade ociosa a ser
aproveitada na indústria, pois a produção ainda está 5,7% abaixo do
pico atingido em setembro de 2008. Diante desse cenário, há,
claramente, espaço para cortes adicionais da taxa Selic. É um absurdo o
Brasil voltar a ocupar a segunda colocação no ranking das maiores taxas
de juros reais do mundo".
Orlando Diniz, presidente da Fecomércio-RJ
"O Banco Central perdeu, mais uma vez, a chance de baratear o crédito e
dar um passo importante para mudar o patamar do crescimento econômico
do Brasil. A Fecomércio-RJ considera um equívoco a manutenção da taxa
de juros, já que a inflação está sob controle, as expectativas estão
dentro da meta e a valorização do real é um fator contra uma eventual
alta nos preços".
