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9º Encontro da Juventude Bahia e Sergipe

Obama, a Mídia, Iraque, Líbia, Venezuela e a guerra de rapina

Emanoel Souza
Quando da eleição de Obama, o mundo comemorou. Afinal Bush representava o que havia de mais reacionário e belicista no mundo, já Obama era um "Democrata", o primeiro negro a presidir a maior potência do planeta. Na época ouvi de um sábio camarada: "Ele é presidente dos EUA e vai defender os interesses do establishment norte americano". Logo caiu nas graças da grande mídia mundial. Virou heroi em todos os cantos do planeta. Estendeu a mão à todos os povos.

De cara dois grandes desafios: A crise financeira de 2008/09, (a solução foi bancar os grandes bancos com dinheiro público e manter a "liberdade do mercado", mesmo diante das escandalosas falcatruas da turma de Wall Street), e resolver os custosos atoleiros do Afeganistão e do Iraque.

Lembremos que Bush e a mídia convenceram o mundo que era legítimo invadir o Afeganistão para caçar o Talibans e Bin Laden (armados pelos ianques na luta contra a URSS) e o Iraque (armado pelos ianques na guerra contra o Irã) para pegar as armas de destruição em massa do Saddam (que não existiam). Na verdade, foram invasões militares para rapinar petróleo e oferecer os "serviços" das grandes empresas norte americanas para a "reconstrução da infra estrutura". Mas não deu certo pois os "nativos" escolhidos para representá-los não conseguiram estabilizar seus países até hoje e a guerra está ficando muito cara.

Com o surgimento da "Primavera Árabe", como a mídia batizou a série de revoltas populares no norte da África, Obama vê uma nova oportunidade para a rapina dos povos. Apoia os milícos no Egito e na Tunisia e aprova "ajudas" milionárias para amenizar a crise econômica. No Quatar, Iêmen, Bahrein, Árabia Saudita e Marrocos, como são governos aliados, finge que nada está acontecendo e a mídia não dá qualquer repercussão. Contra a Síria, medidas econômicas, mas o medo de perder o controle para grupos islâmicos "hostis", dificulta ações militares.

Já na Líbia, apesar de Kadhafi ser um "aliado recente", os interesses eram bem maiores. Os direitistas Belusconi e Sarcozy perceberam logo que podiam reeditar o bom e velho colonialismo. Pude perceber o que estava acontecendo logo no início das revoltas, estava em Nova Delhi e a midia indiana apresentava o assunto de uma forma mais imparcial, ou, ao menos, com um outro olhar.

A Líbia era um dos países mais desenvolvidos da região e composta essencialmente por "tribos" de Beduínos árabes. Kadhafi unificou a maioria delas na década de 60 e derrubou a monarquia deixada pelos italianos no poder com o fim do colonialismo. Foram exatamente os monarquistas, a "tribo" majoritária em Benghazi, que iniciaram as revoltas. Ou seja, ali não houve uma inssurreição popular, nos moldes do Egito, mais sim uma guerra civil, na qual os EUA, a França e a Itália têm vultuosos interesses comerciais.

Escaldado com os fracassos no Afeganistão e Iraque, Obama optou por uma nova estratégia para a guerra de rapina. Aprovou na ONU a autorização para a OTAN declarar uma "área de exclusão aérea" sobre a Líbia para "defender o massacre de civis". De posse dessa resolução e legitimados pela mídia internacional as tropas da OTAN destruiram todo o "poderio" militar líbio, atacou as cidades leais a Kadhafi (massacrando civis) com pesados bombardeios, abrindo caminho para os "rebeldes", armados pela Italia e França, chegarem a Trípoli e tomarem o poder.

Feito isto, patrocinam uma grande reunião de "amigos da Líbia", na qual o Brasil participou (Odebrech, Camargo Corrêa, Petrobras também têm interesses econômicos no país) para dividir o butim, obviamente com Italianos, franceses e norte americanos ficando com a parte do leão. Talvez uma luz no final do túnel para romper com a estagnação européia e dos EUA que serão os responsáveis pela "reconstrução" do país. Tudo isto ao custo do sangue do povo líbio, da soberania daquele país e "em nome da democracia".

Para Murdoch e os "barões da mídia", as explosões sociais na Inglaterra, na Grécia, na Espanha e por toda Europa são coisa de vândalos e justificam até bloquear a internet "em momentos agudos de conflitos", segundo o primeiro ministro inglês. Os ataques do 11 de setembro justificam as restrições das liberdades civis nos EUA, "em nome da segurança e da defesa da democracia".

Bom, e o que a nossa vizinha Venezuela tem a ver com tudo isto? Alguém quer apostar que, mais dia menos dia, surgirá uma "primavera venezuelana"? Não nos esqueçamos das quatro bases militares ianques na Colômbia e da reativação da quarta frota (atlântico sul) norte americana, bem como da disposição golpista da mídia e das "elites" de Caracas (sugiro ver o vídeo "A revolução não sera televisionada" durante o golpe contra Chavez). Estive na Venezuela durante o Fórum Social Mundial e asseguro que a mídia de lá faz a Globo parecer um anjinho inocente.

Assim, é melhor colocarmos as barbas de molho. As crises estruturais do capitalismo já levaram o mundo a outras guerras. É preciso "queimar ativos" e desviar a atenção do povo do seu real problema, o capitalismo. Substituir a luta de classes por nacionalismos xenófobos ou por guerras "religiosas". Eles têm o poderio militar e o monopólio da mídia para tal empreitada. Dai a necessidade de percebermos que as lutas pelo direito à comunicação democrática e contra os monopólios midíaticos têm caráter estratégico.

Alguns dirão que este meu discurso é alarmista, está ultrapassado e não se adapta o novo mundo pós-moderno, porém os mais atentos podem observar que Marx e Lenin nunca estiveram tão atuais e que o imperialismo nunca se fez tão presente e belicoso como agora. Quem viver verá.


Emanoel Souza é economista, jornalista e militante sindical

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