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9º Encontro da Juventude Bahia e Sergipe

"A imprensa brasileira precisa de uma grande reforma agrária"

 

Jeremias Macário, Jornalista


Tornam-se cada vez mais fortes os gritos de comunicadores, intelectuais, estudantes, entidades e movimentos sociais a cerca da democratização da comunicação. São ativistas que buscam a caracterização de uma mídia onde estejam representadas a pluralidade e a diversidade de opiniões e interesses existentes na sociedade.

No Brasil, menos de dez famílias controlam a mídia escrita, falada e televisiva, caracterizando um verdadeiro latifúndio midiático. Sobre a democratização da comunicação, o Piquete Bancário conversou com o jornalista Jeremias Macário, autor do livro "A Imprensa e o Coronelismo no Sertão do Sudoeste" e que tem contribuído com a discussão em nível de Bahia.

 

Piquete Bancário -  Por que se tornou tão relevante a discussão sobre a democratização da comunicação?

Jeremias Macário - O sistema de comunicação do Brasil é um dos mais verticalizados do mundo. A imprensa brasileira tornou-se um latifúndio e, como no campo, precisa de uma grande reforma agrária. Ano passado, durante sua campanha, Lula incluiu em seu programa de governo um projeto de democratização da comunicação, mas, até agora não saiu do papel. Eu esperava que com o novo secretário de Governo, o jornalista Franklin Martins, esse projeto fosse sair mais rápido. Entretanto, entendo que existe uma resistência por parte dos grandes grupos que sempre manipularam e deturparam a informação.  A informação não pode ser um direito de poucos, e sim de muitos. A grande mídia, de uma forma geral, é a que mais se beneficia do governo, em termos de publicidade e de cobertura jornalística. A democratização da comunicação é algo urgente. 

 

P.B. - Qual o modelo ideal para se alcançar essa democratização?

J.M. - Estimulando e prestigiando a imprensa alternativa. A própria imprensa do interior eu considero como imprensa alternativa e ela sempre foi excluída. Para democratizar a comunicação o governo precisa não apenas implantar Tvs públicas, isso é apenas um remendo. No projeto do governo está previsto o financiamento de pequenas empresas comunitárias de comunicação, jornais, rádio, etc... Eu não concordo com o financiamento.. Se há o financiamento de uma mídia tem-se o perigo do mesmo tornar-se refém do governo.   

 

P.B.  O que acontece com a imprensa do interior...

J.M-  Exatamente.

 

P.B - Então, como seria o estimulo a essas pequenas empresas?

J.M. - Elaborar um programa que inclua a comunidade no núcleo da informação, beneficiando-as na política de democratização que está querendo se construir. O governo Wagner, por exemplo, está criando um núcleo de trabalho de políticas públicas de comunicação social, que está promovendo a 1ª Conferencia Estadual de Comunicação Social. Eu, inclusive, apresentei algumas sugestões a pedido da Associação Baiana de Imprensa como a instituição, em cada cidade, de um fórum comunitário de comunicação, criado junto com o Ministério Público. Qualquer governo, seja ele de esquerda ou direita, tem que ter a mentalidade de que a informação é um direito de todos e, para que ela seja séria, é preciso que o governo aceite tanto os elogios quanto as criticas e não torná-las refém.   

 

P.B - Pode-se afirmar que sem democratização da mídia não haverá democracia?

J.M. - Com a democratização da mídia há,consequentemente, o fortalecimento da democracia. Hoje, nós ainda temos uma democracia que engatinha, com a permanência de políticos e ações da época do coronelismo. Poucos políticos, na prática, estão representando o povo, a grande maioria agem em prol dos seus direitos, dos empresários e das elites. Com a informação sendo levada a todos, a população terá uma consciência critica maior para poder escolher seus representantes e lutar pelos seus direitos.

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