Empréstimos poderiam ser até 82% mais baratos
O spread bancário, que é a diferença entre a taxa paga pela instituição financeira para captar recursos e os juros finais cobrados do consumidor, está na mira do governo, que vem estudando formas de forçar os bancos a reduzi-lo. Isto porque, se esta margem cair, as linhas de crédito ficam mais baratas. Mas qual seria o spread ideal no Brasil? A média hoje é de 45,1% ao ano. E, de acordo com estudo feito pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) a pedido do GLOBO, a taxa mais conveniente seria de 17,75% ao ano, em média, cinco pontos percentuais acima da taxa básica de juros (a Selic), hoje em 12,75% anuais. Dessa forma, o custo ao fim do pagamento das prestações em modalidades como cartão de crédito e cheque especial teriam um alívio de quase 82%, apontam cálculos de especialistas.
Economistas ponderam, no entanto, que esse spread tido como ideal poderia aumentar o nível de inadimplência, principalmente, em linhas consideradas emergenciais, como o cheque especial, já que o brasileiro não tem o hábito de poupar.
Porém, há quem acredita que o fomentador do calote é exatamente o alto custo do dinheiro.
O spread médio de 41,5% ao ano em operações para as pessoas físicas, e os juros reais (acima da inflação), em 7,6% anuais, são hoje os maiores do mundo.
Consumo responsável é importante, diz economista Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac, ressalta que o spread ideal no Brasil teria de ser igual ao de países da Europa e dos Estados Unidos, onde a média é de cinco pontos acima da taxa básica de juros. Ele ressalta que as altas taxas repassadas pelos bancos ao consumidor final prejudicam o orçamento das famílias. Oliveira cita o caso de algumas linhas, como o crédito rotativo do cartão de crédito, no qual o spread é de 220% ao ano. O mais viável, continua, seria uma diferença de 30% entre as taxas.
— Mas os bancos alegam que é impossível, pois o custo alto do dinheiro e as projeções de crescimento de inadimplência impedem uma redução das taxas — ressalta Oliveira.
Segundo cálculos feitos pelo professor Gilberto Braga, do Ibmec-RJ, o spread menor dos empréstimos feitos no cartão de crédito faria os juros anuais da linha passarem de 233,56% para 43% ao ano. Com isso, o custo final de um financiamento de R$ 900 dividido em 12 meses passaria de R$ 7.604,27 para R$ 1.373,16. Ou seja, uma redução de quase 82%.
Já no caso de um empréstimo de R$ 2,5 mil no crédito pessoal por um ano, os juros seriam reduzidos de 93% ao ano para 41%. Nesse caso, o custo final na linha teria uma queda de 39%, pois o valor pago após 12 meses cairia de R$ 6.122,76 para R$ 3.741,33.
— Em tese, o juro menor pode favorecer o endividamento.
Mas não devemos temer isso. É importante que os brasileiros tenham um consumo responsável. O atual spread é praticamente impagável para o cidadão comum.
Uma taxa ideal só seria possível se houvesse um volume suficiente para baratear o uso da linha — analisa Braga.
Ele ressalta que as linhas chamadas de emergenciais, caso do cheque especial, por exemplo, devem ter juros maiores para serem usadas em ocasiões específicas e não a qualquer momento.
Porém, Jason Vieira, economistachefe da Uptrend Consultoria, não concorda. Segundo ele, o motivo para uma inadimplência tão alta hoje é justamente o alto custo do financiamento, que se torna, continua, insustentável para diversas famílias.
Em 2008, o calote aumentou 8%, revelou a Serasa Experian.
— Cinco pontos acima da Selic é um patamar ideal para a diferença entre o custo de captação e o que é repassado ao consumidor. Há condições para a redução sim, mas os bancos alegam vários problemas que impedem a redução, como a inadimplência e o custo fiscal. O ideal era que os bancos federais entrassem nessa briga e reduzissem suas taxas para estimular a competição — afirma Vieira.
Segundo o Banco Central, o spread é composto por custo administrativo (13,5%), inadimplência (37,35%), compulsório (3,59%), tributos (8,09%), outros impostos (10,53%) e margem líquida dos bancos (26,93%). Nos dois últimos meses do ano passado, houve forte alta no spread devido à crise global.
Fonte: O Globo

