Este ano a adesão dos bancários do Banco do Estado de Sergipe - Banese - à greve fez a diferença. Com a entrada deles, o movimento paredista atingiu 80% da categoria no Estado. Os bancários conquistaram um aumento salarial de 10% (quem ganha acima de R$ 2,5 mil ficou com 8,15%), que será aplicado sobre os planos de cargos e salários e das funções. Mas os baneseanos tiveram esse reajuste, indistintamente.
"Os bancários vão ter um incremento salarial que recupera a inflação e agrega ganho real", informa José Souza, presidente do Sindicato dos Bancários. A reivindicação era de 13,23%, e inicialmente foram oferecidos 7,5% pelos banqueiros.
A greve dos bancários de todos os bancos começou no dia 8 deste mês e seguiu até o último dia 22, mas com um dia a mais para os da Caixa Econômica e do Banco do Nordeste - BNB, que voltaram ao trabalho na última sexta-feira, dia 24. "A categoria voltou ao trabalho com o sentimento de dever cumprido, de que valeu a pena lutar", diz Souza.
Segundo o sindicalista, se for feito um levantamento rigoroso, a mobilização conseguiu paralisar 80% dos bancários dos diversos bancos. Veja entrevista dele a seguir.
CINFORM - A greve dos bancários foi bem-sucedida?
José Souza - A greve foi vitoriosa sob vários aspectos: foi uma vitória política, porque nós conseguimos envolver a categoria como um todo - os bancários dos diversos bancos, seja da iniciativa privada ou dos públicos, participaram - e especialmente a adesão dos funcionários do Banese, que fazia aproximadamente 15 anos que eles não participavam de greve. Tivemos uma adesão significativa dos baneseanos, o que deu um novo colorido à greve dos bancários do Estado como um todo.
CINFORM - Então a categoria ficou bastante unida na mobilização.
JS - Esse foi um entendimento que no decorrer da greve a gente foi monitorando. Diferentemente dos que achavam que a gente deveria largar de mão aqueles que não aderiram no primeiro momento, nós adotamos uma ação inversa de ir fazendo um processo de conquista diária. A gente ia num dia, no dia seguinte era informado que aquela agência, ou uma parcela de empregados, estava aderindo à greve. A categoria foi entendendo, aos poucos, a necessidade e a justeza da greve, e começou a participar. A partir de um determinado momento, aquilo que era medo se transformou em coragem e ação.
CINFORM - Quais foram as conquistas da categoria?
JS - Foram muitas. No que diz respeito à reivindicação principal, que era a elevação do piso, conseguimos em alguns bancos, principalmente no BNB. E no que diz respeito ao índice reivindicado, que era de 13,23%, conseguimos 10% para 80% da categoria (quem ganha acima de R$ 2,5 mil ficou com 8,15%), sendo aplicado sobre os planos de cargos e salários, sobre as funções. Então isso é, sem sombra de dúvidas, um aspecto importante. A categoria voltou ao trabalho com o sentimento de que valeu a pena lutar, porque vão ter um incremento salarial que recupera a inflação e agrega ganho real.
CINFORM - Qual foi o resultado para os baneseanos?
JS - Os ganhos dos baneseanos nesse primeiro momento foram muito bons, porque a própria diretoria do banco teve a capacidade de fazer uma releitura, e mudou aquela atitude que no primeiro momento era como se não tivesse acontecendo nada. A partir de um determinado momento, ela foi admitindo que a greve tinha chegado no Banese e, mais adiante, percebeu que estava muito forte. Então chamou a direção do sindicato e se antecipou informando que aplicaria os 10% para todos os funcionários, indistintamente. E isso não foi por um ato de generosidade, foi em função da força da greve dos empregados do Banese.
CINFORM - Quais as dificuldades de se manter uma greve?
JS - São muitas. A gente tem dito que é uma luta que tem dois campos: enquanto os trabalhadores estão ali se esforçando para construir, tem outro lado atuando para desconstruir. Usando os mais diversos expedientes, seja do aliciamento, da cooptação ou do assédio, até aqueles mais autoritários e violentos, com ameaças de tirar o emprego, como foi o caso dos empregados do Bradesco, que praticamente ficaram em cárcere privado. Eles tinham que entrar mais cedo e ficar dentro do banco, mesmo se a agência não tivesse funcionando. Embora eles não tenham participado fisicamente da greve, tenho certeza que estiveram o tempo todo conosco. A gente sente a cumplicidade num olhar, num gesto de que eles estavam querendo dizer ‘ainda não estamos aí com vocês, mas uma hora vamos chegar junto'.
CINFORM - Em percentuais, qual o nível dessa greve?
JC - A gente conseguiu interromper o atendimento em mais de 80% da rede bancária no Estado. Ao ponto disso ser visível. A greve teve uma repercussão considerável no comércio. Impactou nas vendas, na medida em que a circulação do dinheiro foi ficando escassa. Apesar disso, a população entendeu a nossa luta, porque é formada por trabalhadores que tem entendimento de que sem luta não se consegue nada. Nós agradecemos a população por ter compreendido e ter ficado solidária com a nossa luta. Houve um caso ou outro de intolerância, mas é natural. No geral, a população apoiou.
CINFORM - Como agiu o sindicato com os interditos proibitórios impetrados pelos bancos?
JS - Procuramos não dificultar a atuação do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e colocamos na mão da nossa assessoria jurídica, que, aliás, é a melhor do Estado. O Sindicato dos Bancários tem os dois principais escritórios de direito do trabalho de Sergipe defendendo a categoria. Felizmente, os magistrados do trabalho não deram tanta importância a esse instrumento chamado interdito proibitório, que eram utilizados na década de 40 pelos proprietários de terra quando havia conflitos. Agora é usado por bancos, alegando que suas propriedades estão comprometidas pelos militantes, com objetivo de reforçar o medo nos trabalhadores.
CINFORM - Qual a grande lição dessa greve?
JS - Que os trabalhadores enxerguem os sindicatos como instrumentos necessários, enquanto instituições históricas necessárias para a consecução das suas questões imediatas e das históricas. Ficou uma lição importante. Daqui a 50 anos, as gerações que vão acessar os livros de história, que vão pesquisar no Instituto Histórico (e Geográfico de Sergipe) e nos jornais vão ver que no período de outubro de 2008 os bancários de Sergipe realizaram uma grande jornada de luta, pararam os bancos, questionaram o capital. O Sistema Econômico está sendo questionado no mundo inteiro e foi questionado aqui também. A imprensa fez uma excelente cobertura e o trabalho de divulgação interno também foi determinante para o sucesso da nossa greve, que teve uma unidade extraordinária dos bancários e um encaminhamento com sabedoria da direção do Sindicato.