Adolescentes com deficiência não se reconhecem nos meios de comunicação
A pesquisa ouviu adolescentes entre 11 e 13 anos, de diferentes classes sociais, da Argentina, do Brasil e do Paraguai. Para a maioria dos 67 entrevistados, as programações de televisão, os jornais e as revistas não os retrata. Segundo a pesquisa, a maioria esmagadora não se recordou de nenhuma notícia ou personagem televisivo que abordava essa condição.
"Por se reconhecerem pouco na programação da tevê, os adolescentes com deficiência não têm na televisão um espelho, mas uma janela. Por isso, em várias ocasiões, os jovens integrantes do presente estudo compadeceram-se mais com situações de miséria e exploração de crianças nas ruas, do que com adolescentes com dificuldades de inserção social devido a alguma deficiência", disse o estudo.
Os adolescentes se lembraram de alguns personagens com deficiência apenas se estimulados. Os brasileiros se lembraram de mais personagens do que os argentinos e os paraguaios. Para os especialistas que comandaram o estudo, essa realidade brasileira se deve a ações de merchandising social que incluem pessoas com deficiência nas telenovelas, histórias em quadrinhos e programas infantis.
No entanto, apesar de não lembrarem, quando recordados, os adolescentes, especialmente do grupo brasileiro, se identificaram positivamente com o que era mostrado nos meios de comunicação. Essa identificação foi positiva, porque os adolescentes não demonstraram autopiedade.
Mas, segundo o estudo, embora o merchandising social seja uma boa iniciativa, "o fato de os participantes da pesquisa não se recordarem espontaneamente de personagens e notícias sobre essa parcela da população é preocupante".
Para os pesquisadores, isso significa que a realidade apreendida por esses garotos na mídia não reflete, ainda que minimamente, seu mundo e suas experiências. Segundo Guilherme Canela, coordenador de Relações Acadêmicas da ANDI e do estudo, isso vai lhes causar uma dificuldade extrema de reflexão sobre sua condição, "um dos componentes essenciais para a luta pela garantia dos seus direitos".
A televisão e internet são os meios de comunicação mais usados para obter informação pelos adolescentes com deficiência. Dos entrevistados, 53,1% assistem mais de três horas de TV por dia, 46,9% não lêem jornais, 56,4% lêem revistas até três vezes por mês, e 39,3% ouvem rádio até três vezes por semana.
Os gostos e preferências dos garotos e garotas com deficiência são semelhantes ao dos que não são portadores de nenhuma deficiência, como programas característicos da infância - desenhos - e com outros típicos dos adultos - novelas e reality shows. Quando questionados espontaneamente, os entrevistados reclamaram do excesso de violência e da "baixaria" nas programações.
De acordo com o estudo, nos grupos realizados no Brasil, foram feitas discussões sobre a Classificação Indicativa, levantada pelos próprios adolescentes. Os adolescentes com deficiência auditiva reclamaram que no anúncio da indicação, que tem uma interpretação para a Língua de Sinais Brasileira (Libras), os intérpretes gesticulam muito rápido e o espaço destinado a eles é pequeno.
Assim, os adolescentes não entendem as mensagens veiculadas. Além disso, os adolescentes com deficiência auditiva pediram que mais programas televisivos sejam interpretados em Libras.
Com informações da Andi