Jornada de Luta no ABN e Santander

"O Santander já anunciou 19 mil demissões assim que o negócio for efetivado. Esta atividade é o auge da nossa Jornada de Luta, que a Contraf-CUT está realizando em Brasília. Desde ontem, estamos fazendo um corpo-a-corpo com os deputados e senadores e hoje estendemos este varal para mostrar o que significa 19 mil demissões", explica Paulo Stekel, diretor da Contraf-CUT e bancário do Santander.
O protesto dos bancários chamou a atenção de quem passava pelo Congresso. De longe, o varal podia ser visto e aguçava a curiosidade. "Muitas pessoas se aproximaram para entender do que se tratava. Recebemos muitos apoios, as pessoas ficaram indignadas ao saber que duas empresas lucrativas querem demitir trabalhadores por conta de negócios que só visam aumentar o lucro", diz Deise Recoaro, diretora da Contraf e funcionária do ABN/Real.
Também na quarta-feira, os bancários terão audiências com a Secretaria-geral da Presidência da República e com o presidente da Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho), Cláudio José Montesso. Em paralelo às audiências, os dirigentes sindicais passarão o dia em reuniões com deputados federais e senadores no Congresso Nacional.
Contraf articula apoio do Ministério do Trabalho na luta do ABN e Santander
(São Paulo) A Contraf-CUT protocolou nesta quarta-feira, dia 26, um carta no Ministério do Trabalho com pedido de audiência com o ministro Carlos Lupi. O objetivo é discutir como o governo pode colaborar na luta dos bancários pela manutenção dos empregos no ABN e no Santander, que devem fechar negócio nos próximos dias para a fusão dos dois bancos.
"Ontem, tivemos uma reunião com o Secretário de Relações do Trabalho, Luiz Antonio Medeiros, e com o assessor especial do ministro do trabalho, Ezequiel Nascimento. Conseguimos arrancar dos dois o compromisso de que o Ministério do Trabalho vai estar empenhado na defesa do emprego dos trabalhadores brasileiros. Neste sentido, enviamos a carta ao ministro e pedimos uma audiência para que ele interceda em nosso favor", explica Marcelo Gonçalves, coordenador da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do ABN, órgão da Contraf-CUT.
"Queremos o apoio do Ministério, com a mediação do governo entre bancários e o banco Santander e ABN, para estabelecer regras e controles que impeçam às demissões em empresas lucrativas. Precisamos do apoio do governo brasileiro neste momento em que todos estão empenhados num grande esforço para o crescimento econômico com distribuição de renda e geração de emprego. Neste sentido, todo investimento precisa priorizar a geração de emprego. E não ao contrário, como estamos vendo no ABN e Santander", diz Mário Raia, coordenador da COE do Santander.
Veja abaixo a íntegra da carta protocolada no Ministério da Fazenda.
Ao Excelentíssimo Senhor Ministro do Trabalho
Carlos Lupi
Sr. Ministro,
Há meses iniciou-se na Europa um processo envolvendo grandes bancos da região, visando tomar o controle do Banco ABN AMRO sediado na Holanda.
A primeira proposta partiu do banco inglês Barclays PLC , traduzida pela oferta de suas ações em troca das ações do ABN totalizando um desembolso de ?65 bilhões.
Imediatamente após, o mercado financeiro internacional foi surpreendido com o anúncio da formação de um consórcio de bancos, formado pelo escocês RBS, o espanhol Santander e o belga-alemão Fortis, com o objetivo exclusivo de disputar com o Barclays a compra do ABN.
A proposta do consórcio alcança a extraordinária cifra de ?71 bilhões e, materializada a transação, será a maior da história do sistema financeiro mundial. Desgraçadamente, o consórcio anunciou que se a sua proposta for considerada vencedora, demitirá 19.000 funcionários no mundo, o que é motivo de grande preocupação do movimento sindical bancário brasileiro.
Nas últimas semanas, em razão da diferenciada estrutura das propostas, tudo leva a crer que o consórcio de bancos será o vencedor da disputa, e que o Banco Santander assuma os negócios do Banco ABN Real aqui no Brasil.
A nossa preocupação é fundamentada no motivo de que no Brasil não existem mecanismos de proteção do emprego, utilizados pela maioria dos países europeus para enfrentar esses processos de fusões e incorporações, aonde se garante no mínimo dois anos de empregabilidade e proteção social para que os trabalhadores possam buscar sua recolocação no mercado de trabalho.
Podemos citar como exemplo do parágrafo anterior o próprio Banco Santander quando da compra do Banco Central Hispano na Espanha os trabalhadores deste banco tiveram 3 anos de estabilidade no emprego.
Sendo assim, é legítimo deduzir que parte considerável das 19.000 demissões anunciadas ocorrerão no Brasil, trazendo todos os conhecidos malefícios para os trabalhadores dos Bancos ABN Real, Santander e suas famílias.
Quando uma empresa compra ou se funde com outra, o efeito mais imediato sentido pela sociedade é a redução de vagas de trabalho. Nessa e em outras situações os trabalhadores perdem seus empregos, apesar de não haver qualquer razão para isso.
Preocupados com a situação do emprego, os trabalhadores brasileiros do Banco Santander e do Banco ABN pedem a Vossa Excelência interceda pela manutenção dos empregos nestes bancos.
Sendo o que tínhamos para o momento, aproveitamos o momento para apresentar-lhes nossas
Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro - CONTRAF-CUT
Senador Suplicy entra na luta em defesa do emprego no ABN e Santander
(São Paulo) O corpo-a-corpo da Contraf-CUT com os parlamentares no Congresso Nacional garantiu hoje o apoio formal do senador Eduardo Suplicy (PT-SP) na luta dos bancários em defesa do emprego no ABN e Santander.
O senador já tomou a primeira providência e solicitou, via requerimento, que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a Secretaria de Direito Econômico (SDE) enviem ao Senado informações "acerca das iniciativas que ambos os órgãos estão adotando frente à anunciada venda do Banco ABN Amro (conglomerado que engloba o Banco Real) para o consorcio formado pelo Royal Bank of Scotland (RBS), Fortis, da Bélgica, e o espanhol Santander, no que diz respeito aos possíveis efeitos de concentração do setor financeiro brasileiro e de diminuição de oportunidades de trabalho que estão preocupando as diversas entidades representativas de trabalhadores".
Na justificativa, o senador Suplicy diz que "essa fusão, considerando a sobreposição de postos de trabalho no país, poderá gerar mais de 15 mil demissões, levando-se em conta centros administrativos e centros telefônicos de atendimento ao cliente. Some-se a isto o prejuízo para a população, advindo do fechamento de agências, sem falar da concentração bancária, que tende a encarecer as taxas cobradas pelos serviços e a comprometer a qualidade do atendimento ao público".
O senador conclui o requerimento afirmando que o Cade e a SDE "têm a responsabilidade de estar atentos à possíveis movimentos que possam resultar em concentração econômica excessiva e conseqüências no que diz respeito ao que possa ocorrer na economia, inclusive no mercado de trabalho". Por isso, completa, "torna-se relevante a obtenção dessas informações para que o Senado possa adotar as medidas necessárias a proteção dos trabalhadores e consumidores brasileiros".
Lobistas do ABN e do Santander tentam impedir audiência na Câmara
(São Paulo) Enquanto a Contraf-CUT estava no Congresso Nacional em busca de apoio dos parlamentares na luta pelo emprego, lobistas do ABN e do Santander tentavam impedir e sabotar a audiência pública na Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados, agendada para esta quinta-feira, dia 27.
Os bancos pressionavam pela não realização da audiência, ou sabotagem, através do esvaziamento da reunião. Também tentam impedir o comparecimento de representantes do Banco Central, usando o argumento é de que o negócio (a venda do banco) não foi realizado.
"Fica a pergunta: se os dois bancos dizem valorizar seus trabalhadores, então qual o medo de participar de uma reunião pública? Qual o medo de debater publicamente sobre a nossa maior preocupação: a manutenção do nosso emprego?", questiona Marcelo Gonçalves, coordenador da Comissão de Organização dos Empregados do ABN, da Contraf-CUT.
Ele ressalta que, na Europa, o consórcio assumiu compromisso com os trabalhadores em relação o cumprimento dos acordos e leis de proteção do emprego e demais direitos durante dois anos. "O próprio Santander quando comprou o banco Central-Hispanico garantiu, por três anos, o emprego dos trabalhadores. Então, se assume compromissos com os trabalhadores europeus antes da venda e da conclusão do negócio, deve também assumir compromisso com os trabalhadores brasileiros", conclui Marcelo.
Lamentável
Durante o corpo-a-corpo realizado no aeroporto de Brasília com deputados e senadores, a Contraf-CUT conversou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, que é ex-vice presidente do Santander. "Insistimos na necessidade de um acordo de garantia de emprego, porque as empresas são altamente lucrativas e com enormes rentabilidades. Citamos que o momento no país é de geração de emprego e o governo não admitir para demissão de 19.000 trabalhadores", relata Miguel Raia, da COE do Santander.
O ministro falou das dificuldades de acordos sobre garantia de emprego, mas reconheceu que os trabalhadores europeus são protegidos diante de fusões de bancos. O ministro também reconheceu que a compra do Real é excelente e traz muitos ganhos para o banco Santander.
"Um dado interessante é que a única palavra que incomodou o ministro foi 'monopólio', que estava escrito no nosso material. Mas não se importou com as palavras desemprego e miséria. Muito interessante...", conclui Raia.
Fonte: Contraf-CUT