Os percalços de um Rio ou da humanidade
Os percalços de um rio são incomensuráveis, ora convergentes, ora divergentes,ora côncavo, ora convexo, repousado em seu leito correndo para o mar. Sua força caminha serena superando seus obstáculos, desviando seu curso para continuar a caminhada, jogando seu corpo de alturas arrebatadoras sonhando com o céu no fundo do mar.
É uma veia que alimenta o coração da vida colorindo o tempo,descolorido pelos homens toscos, que mesmo dependentes das águas a destrata, machuca-a com suas ações predatórias, suja-a com suas mãos ingratas e com seus dejetos.
Pobre rio outrora cristalino, bailando nas valsas dos ventos solto no ar, como criança jogada na infânciacorrendo a brincar, sorrindo,e o rio que corre para mar, pedindo socorro para se salvar.
Os pássaros sedentos choram voando em bando, drapejando suas asas sobre o leito do rio escuro para alegra-lo, tentam em vão com suas canções, valsar para desperta-lo,e voltar a sonhar nas flores da primavera, e na calmaria quente do verão, aquecendo-o no inverno, resgatando-o no outono que virá.
Que diríamos dos peixes presos em suas águas turvas sem poder respirar, escondidos na sujeira humana que os olhos humanos não veemhumanidadedesviada dos seus sentimentos mais puros, em vez de tê-lo dentro de si, estávoltado para “o ter”,esquecendo-se de educar o ser, para contemplar a vidae respeita-la no íntimo da sua alma ferida.
Está à humanidade como o pobre rio que não vê mais a beleza das estrelas, o por do sol se escondendo na vastidão do mundo, e o seu nascer embelezando o mar, ficando o sentimento da saudade, da tristeza, presa em si, lamentando seu destino jogado nas mãos da humanidade,que não sabe onde começou a sua infelicidade, e com sua natureza deseducada, vinga-se no rio que só amor tem para lhe dar. Ó! Triste rio, se eu pudesse sozinho te salvar, libertar-lhe-ia do dessossegode seu infortúnio, gerado pela cobiça e pela falta de consciência ecológica, de uma sociedade que não foi educada para os fundamentos da responsabilidade e da visão de um mundo salutar, que não foi preparada para o respeito ao ser, e sua insensibilidade não chora em lágrimas suas desgraças.
Sinto-me impotente diante da estupidez humana, sinônimo de ignorância escondida naarrogância dopobre homem infantilizado, capacitado como predador da sua própria natureza mesquinha, voltada para o nada do todo que vislumbrou, e poderia lhe engrandecer como partícula nuclear positiva, sendo dono da sua razão e controlador das suas emoções, sendo dono do seu “Eu” e educador de si mesmo, pois ajudaríamos mais como ilha educada do que como oceano devastador, e salvaríamos o fenômeno homem,mergulhando nas nossas essências como o rio mergulha no mar, caminhado em nossos labirintos, como o rio caminha em seu leito,acendendo as luzes do nosso interior.
Valter Moraes é filósofo. funcionário do Bradesco e diretor da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe