Nenhuma central garante sozinha a unidade, diz líder da SSB
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Joilson Cardoso
Em entrevista ao Vermelho, Joilson enfatiza que a CTB (nome provisório da nova central) se destaca por ter um projeto de nação e lutar pelo socialismo. "O campo que cria essa central diz que, na sociedade capitalista, não há felicidade para os trabalhadores." O sindicalista também conta como foi que as bases da SSB, por consenso, decidiram sair da CUT e fundar uma central ao lado da CSC (Corrente Sindical Classista), de federações dos trabalhadores e outras frentes sindicais.
Qual foi a principal razão pela qual a SSB resolveu sair da CUT e se engajar na construção da central classista e democrática?
Primeiramente, nós identificamos uma conjuntura que impõe para a classe trabalhadora do nosso país a defesa de um projeto nacional. Estamos findando um ciclo histórico. Estabelecemos a luta contra a ditadura, por democracia, pela estabilização e pelo direito de os trabalhadores se organizarem.
Esse ciclo teve um êxito muito grande. Houve a criação da CUT, a construção de nossas correntes - a SSB, a CSC -, a identificação do que somos. Hoje, com a consolidação desse projeto histórico, estamos mais maduros, e a classe trabalhadora projetou para a Presidência da República um trabalhador vindo da fábrica chamado Luiz Inácio Lula da Silva. Isso não é qualquer coisa.
É bem verdade que o Brasil está melhor - a luta que fizemos resultou em melhorias para a classe trabalhadora. Entretanto, não conseguimos, até hoje, superar as dificuldades que este país enfrenta. A defesa do projeto nacional se faz necessária, bem como a defesa do desenvolvimento com distribuição de renda.
Nesse momento, os socialistas, os classistas, os comunistas, os democratas (no sentido original da palavra) buscam se fazer atores na construção de um projeto seguinte para avançar, para ir além do que já fizemos. E sentimos que, na CUT, não conseguiríamos liderar essa proposta.
Por que não?
A maioria que está lá não compreende isso e acha que o que fizemos até aqui basta. Se a gente for ver o povo brasileiro, nós temos ainda 35 milhões que passam fome neste país. Não podemos nos conformar com isso. A questão da sustentabilidade de um projeto no campo da economia, no campo do meio ambiente, é uma necessidade.
Sentimos que a CUT e as outras centrais estão alheias a isso - estão fazendo o trivial. Nós queremos criar nossa central para disputar, junto à sociedade brasileira, uma opinião. Qual opinião? A de que a classe trabalhadora seja protagonista, os propulsores da sociedade, num projeto que coloque o Brasil em outro patamar.
Reconhecemos que avançamos, mas o avanço até aqui não é o fim de nossa história - muito pelo contrário.Num novo patamar histórico, devemos estabelecer uma nova luta. Essa central defenderá os interesses dos trabalhadores, mas sem ficar presa ao dia-a-dia do sindicato, do movimento.
Como foi travado esse debate nas bases da SSB? Deu para formar um consenso?
No Congresso da SSB (realizado no final de setembro), tivemos a participação de 19 estados do país, representados pelos delegados. Depois de três dias de intensos debates - debates de dia inteiro, manhã, tarde e noite -, aprovamos a tese que apontava para uma leitura da conjuntura e um desenho de propostas. Por unanimidade, aprovamos a saída da CUT e a criação da central.
Não queremos aqui lamber as nossas feridas. Mas, se fossemos elencar as questões internas da CUT, podemos citar uma principal: é o hegemonismo da Articulação Sindical, que não considera o outro. A pior política é sempre quando você não identifica com valor o outro, o minoritário. E a nossa central é classista e democrática porque considera qualquer força política, por menor que seja, como uma força importante.
Quem é menor hoje no tamanho pode ser maior amanhã em suas propostas. A central se constitui a partir disso - de uma política confiança que se estabeleceu entre a CSC, a SSB e várias lideranças do meio. Estamos construindo a central com uma fé inquebrantável na unidade desse setor classista, democrática, socialista, comunista, para a disputa de um projeto nacional.
Umas das afirmações mais freqüentes nos documentos da SSB é que deixar as fileiras da CUT não significa um rompimento total. Quais são os projetos comuns que podem manter central e corrente unidas?
A proximidade é que ambas são dos trabalhadores. A grande diferença é que nós somos classistas, queremos avançar e não queremos hegemonizar o movimento sindical. Uma coisa são as entidades, outra coisa é o movimento. Aprendemos no século 19 que não nos basta defender os interesses da classe, das categorias. Temos de nos unir com a juventude, os movimentos sociais, os trabalhadores do campo. Precisamos ouvir também as demandas específicas de vários setores da sociedade brasileira.
Precisamos chamar o povo, unir o povo, em defesa a nossa nação e de um projeto sustentável para nosso país. Esse é o principal objetivo da central classista e democrática. Nossa central não é apartidária nem antipartidária - que é um discurso falso. Nós queremos identificar e procuraremos na sociedade brasileira quais são os partidos que estão ao lado do povo e desse nosso projeto.
É nossa grande diferença da CUT, que está acomodada, satisfeita. A CUT se confunde com o governo, com um partido, e hegemoniza. Não quer nos ouvir. O que eles estão disputando são os cargos em seu interior e no governo. E uma central não pode ser governo, não pode ser partido.
Em outras palavras, a unidade do sindicalismo já não passa apenas pela CUT?
Não passa pela CUT nem passará somente pela gente. Por isso é que a CUT e as outras centrais são importantes, mesmo nas suas contradições. Além de proclamar nosso projeto nacional e sindical, temos um sonho, que é o socialismo. O campo que cria essa central diz que, na sociedade capitalista, não há felicidade para os trabalhadores.
Nós queremos uma sociedade em que vamos discutir aí, sim, a felicidade humana, ver o povo brasileiro feliz, o que depende do socialismo. Essa bandeira é da central classista e democrática, é da CTB - não é de nenhuma outra central. Por isso, só por essa tarefa, já valeria a pena construir essa central.