Evento “Conversa de Dandaras” homenageia mulheres negras
Uma roda de diálogos e reflexões de mulheres negras sobre o enfrentamento do racismo na Bahia e no Brasil, assim foi o evento “Conversa de Dandaras”, realizado pela APLB-Sindicato na última sexta-feira (6/12), em Salvador.

A diretora de Gênero da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe, Nancy Andrade, foi uma das convidadas do evento, que recebeu mulheres negras para compartilhar suas histórias de superação e luta contra o preconceito, na defesa da igualdade de gênero.
“Conversa de Dandaras foi um evento de fundamental importância, por ser muito raro vermos pessoas negras homenageadas por sua atuação contra a discriminação racial e a violência contra as mulheres. Foi muito enriquecedor ouvir as histórias de superação de várias mulheres negras, onde também pude contribuir e além de tudo a constatação de que nós negras e negros somos a maioria da população brasileira e infelizmente somos invisibilizados, no que diz respeito aos nossos direitos, a representação política, o acesso a serviços. Ou seja, infelizmente o racismo faz com que a desigualdade insista em nos perseguir. Evidentemente que, não devemos esquecer, que após 13 de maio de 1888, a população negra foi jogada à própria sorte!”, destacou Nancy Andrade.
Estiveram presentes também, o coordenador geral e vice coordenadora da APLB, Rui Oliveira e Marilene Betros, a presidenta de CTB-Bahia, Rosa de Souza, Janete Ferreira (funcionária do sindicato), Vitalina Silva (especialista em Gestão Escolar e vencedora do prêmio “LED Luz na Educação – Rede Globo”), Ivonete de Jesus Pinheiro (diretora da Regional Sertaneja – APLB), Maria José “Zezé”, diretora do SINPOJUD, e Stael Kyanda Machado (ativista social, escritora e especialista em Psicanálise).
Histórias Inspiradoras

Nancy Andrade trabalhou como empregada doméstica, ainda menor de idade, enfrentando dificuldades para estudar. Apenas quando se mudou para o Rio de Janeiro para trabalhar como babá conseguiu continuar os estudos, mesmo sob condições desafiadoras. “Se eu não puder estudar, vou embora”, disse à sua patroa do Rio.
Nancy se formou em Administração de Empresas, se tornou bancária e após voltar para Bahia, se tornou dirigente sindical. Hoje é diretora da Feebbase, integrante da Unegro, da UBM e militância destacada na luta contra o racismo e em defesa dos direitos das mulheres.
Janete Ferreira, funcionária da APLB há mais de 20 anos, foi uma das homenageadas do evento e emocionou o público ao contar sua trajetória de vida. Adotada por uma família branca na infância, enfrentou trabalho infantil desde os 7 anos e abandono escolar. “Aos 13 anos, fugi da casa dessa família para poder frequentar a escola e somente aos 15 anos fui matriculada. Hoje tenho orgulho de trabalhar com professores, esta categoria que me mostrou o mundo e me trouxe conhecimento”, declarou.
Zezé, hoje presidente do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário da Bahia (Sinpojud), enfrentou muitos preconceitos na infância, juventude e entre a própria diretoria do sindicato. “Ouvi de uma diretora branca que o sindicato precisava de uma presidenta de cabelo liso, nível superior e bonita, não de uma pessoa como eu”, contou.
Vitalina Silva, filha de uma costureira, é hoje uma educadora reconhecida nacionalmente. Pioneira na promoção da educação antirracista, destacou a importância de “levar nossos personagens negros que fizeram História para as escolas”, denunciando o racismo estrutural e suas sutilezas. Mesmo enfrentando perseguições profissionais, Vitalina mantém seu compromisso de transformar a educação em uma ferramenta de combate ao racismo.
Com informações da APLB Sindicato.
