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As regulamentações em marcha

Berlim, 24/03/2008(IPS) - A crise financeira em curso nos mercados mundiais marca o fim da globalização neoliberal e o início de uma nova era de regulamentações, segundo economistas e dirigentes políticos.

Na Alemanha já se observa sinais da mudança, parte de uma tendência que se estende rapidamente através da Europa e por outros países. Em meio a uma crescente preocupação pela possibilidade de a crise arrastar mais instituições à bancarrota, banqueiros e líderes políticos alemães reclamam a intervenção do Estado para evitar uma grave recessão, tanto nacional quanto internacional.

O presidente do Deutsche Bank, maior banco da Alemanha, Josef Ackermann, disse que já não acredita mais na "capacidade de auto-regulamentação do mercado". Devido à magnitude que a crise ganhou nos últimos meses, "os governos devem intervir para influir sobre ela", acrescentou. O economista-chefe do banco, Norbert Walter, e outros especialistas concordaram com as palavras de Ackermann. Walter disse em entrevista coletiva que a crise poderia estender-se até final de 2009. "Necessitamos uma nova organização e novas idéias sobre a regulamentação dos mercados financeiros", assegurou.

Michael Heise, economista-chefe do Allianz/Dresdner Bank, alertou que muitas instituições financeiras internacionais poderiam quebrar nos próximos meses, tanto na Alemanha quanto no resto do mundo, como conseqüência da crise. Seus comentários foram conhecidos depois que o banco privado norte-americano Bear Stearns caiu em uma grave falta de liquidez devido à sua falida especulação com hipotecas de alto risco, concedidas a pessoas com poucas possibilidades de enfrentar a devolução desses créditos.

Muitos outros bancos na Alemanha, Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, entre outros países, enfrentam dificuldades semelhantes devido ao dinheiro colocado nos chamados "derivativos", instrumentos financeiros especulativos e de alto risco que se apóiam nas hipotecas norte-americanas. Na Grã-Bretanha, o governo nacionalizou no mês passado o banco Northern Rock, praticamente em quebra por suas colocações de risco no mercado hipotecário norte-americano. Calcula-se que o custo da nacionalização ficará entre US$ 110 bilhões e US$ 220 bilhões. Aproximadamente cem mil pequenos acionistas do Northern Rock iniciaram uma investigação sobre as operações do banco.

Instituições financeiras privadas e estatais da Alemanha enfrentam problemas parecidos. O banco estatal IKB recebeu do governo garantias no valor de US$ 15 bilhões para evitar seu colapso devido aos fundos que colocou no mercado hipotecário dos Estados Unidos. O governo alemão buscou em vão um comprador interessado no IKB. Seus diretores admitiram no último dia 20 que deverão contabilizar como perdas empréstimos no total de US$ 1 bilhão. Bancos públicos pertencentes aos Estados da Bavária, Renânia do Norte-Westflaia e Saxônia também receberam abundantes fundos para salvá-los da quebra.

À luz do fracasso das políticas neoliberais, o ex-ministro das Finanças da Alemanha Oskar Lafontaine, (1998-199), que em 2005 se separou do Partido Social-Democrata e fundou o Partido de Esquerda, convidou o banqueiro Ackermann a unir-se ao seu partido. "Com comentários como os de Ackermann, podemos ver a profundidade da crise", disse Lafontaine ao jornal Saarbruewcker Zeitung. O dirigente do Partido de Esquerda reclamou a reintrodução de regulamentações para controlar os movimentos de capitais. Também propôs a aplicação de um imposto sobre transações financeiras especulativas, uma proposta lançada pelo falecido economista norte-americano James Tobin (1918-2002), que em 1981 ganhou o Nobel de Economia. "Necessitamos de investimentos na economia real, não de investimentos especulativos", assegurou Lafontaine.

O líder do Partido Verde alemão, Juergen Trittin, ex-ministro do Meio Ambiente (1998-2005), disse à IPS que a atual crise representa a bancarrota da globalização neoliberal. "Primeiro, os bancos apostaram o dinheiro de seus clientes em especulações de risco e agora esperam que esses mesmos clientes, através dos impostos, paguem a conta", afirmou. Trittin destacou que até há pouco tempo Ackermnn e Walter diziam ao Estado para não colocar as mãos na economia. "Agora é o Estgado que deve agir como salvador", acrescentou.

Também na França os bancos enfrentam as conseqüências da falta de controle sobre suas manobras especulativas. Em janeiro, o Société Générale perdeu mais de US$ 9 bilhões e esteve prestes a perder mais US$ 75 bilhões em operações canceladas no último momento. O banco admitiu que havia ignorado 74 advertências de seu próprio sistema de supervisão e permitiu que se seguisse adiante com as transações realizadas por um de seus executivos, Jerome Kerviel. Fatos semelhantes de fracassos dos controles internos se repetiram em outras instituições em todo o mundo. Isto se soma à incapacidade do mercado para se auto-regulamentar. Ferdinand Lancina, ex-ministro austríaco das Finanças, entre 1985 e 1996, disse o jornal Der Standar, de viena, que "o neoliberalismo morreu, e por muito tempo". (IPS/Envolverde) (FIN/2008)

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