De saída da CUT, CSC fecha encontro rumo à central classista
Em tom de conclamação para criar uma central sindical classista e democrática, a CSC encerrou seu 7º Encontro Nacional, na manhã deste domingo (30), em Salvador (BA). Os seis pontos da resolução final, aprovados por unanimidade pelo plenário, indicam os próximos passos de uma luta que promete alterar o cenário do sindicalismo.

O plenário votou as decisões por unanimidade
O encontro revelou forte unidade e consenso nas bases da corrente, que também aprovou unanimemente o documento "Rumo a uma central classista e democrática". Palco desses debates, o Ginásio de Esporte do Sindicato dos Bancários da Bahia recebeu, nos últimos três dias, 443 delegados sindicais e 149 observadores, em nome de 232 entidades de 21 estados.
"Esse encontro teve uma importância bastante particular para nós e para a classe trabalhadora brasileira", sublinhou João Batista Lemos, coordenador nacional da Corrente Sindical Classista. "Adquirimos mais condições para nos transformar, junto a outras forças, em uma central classista, democrática e plural."
A relação com a CUT
Mediador da mesa que finalizou o encontro, Wagner Gomes, vice-presidente da CUT e presidente recém-eleito do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, esclareceu as resoluções. Já nesta semana, entidades lideradas pela CSC devem iniciar o processo de desfiliação da Central Única dos Trabalhadores. Para os sindicalistas que ocupam postos na CUT - ou que são representantes cutistas em conselhos -, a orientação é de pôr seus cargos à disposição.
"A conferência discutiu e deliberou um novo modelo de central sindical, classista e democrática - um espaço de convivência e de luta dentro do movimento. Se houve tanta unidade, foi porque amadurecemos essa questão com o tempo, e a mudança de nossa linha sindical teve sustentação também nas bases", analisa Wagner Gomes.
Questionado sobre os eventuais impactos na relação CSC-CUT, Wagner enfatiza: não se trata de um rompimento definitivo. "Vamos trabalhar por um fórum de centrais sindicais que unifique as lutas dos trabalhadores. Seguramente, a CUT será uma de nossas aliadas preferenciais."
O que vem por aí
Ainda nesta semana, uma comissão relatorial deve finalizar o documento "Rumo a uma central classista e democrática", incorporando as 58 emendas apresentadas. O texto (clique aqui para ler) explica por que a CSC sairá da CUT e como pretende criar a central classista e democrática.
A nova entidade será anunciada em 15 de outubro, uma segunda-feira, em São Paulo. De manhã, a comissão organizadora delibera o estatuto e o nome da central. Às 15 horas, em local a ser definido, ocorrem ato público e entrevista coletiva com lideranças de sindicatos e entidades que devem aderir à central classista.
O histórico congresso para a fundação da entidade está marcado para os dias 12 a 14 de dezembro. O local do encontro deve ser o Sesc Venda Nova, em Belo Horizonte (MG).
Confira abaixo as resoluções do Encontro Nacional da CSC
Resolução do 7º Encontro Nacional da CSC
Realizado em Salvador (BA), nos dias 28, 29 e 30 de setembro, o 7º Encontro Nacional da Corrente Sindical Classista (CSC) aprovou as seguintes resoluções:
1 - As entidades sindicais lideradas pela CSC devem se integrar ao Movimento por uma Central Classista e Democrática, encaminhando a desfiliação à Central Única dos Trabalhadores (CUT)
2 - Os sindicatos dirigidos por classistas, respeitadas suas disposições estatutárias, devem realizar reuniões e/ou convocar assembléias gerais de suas bases para deliberar sobre a participação no congresso de fundação da central classista e democrática
3 - As entidades lideradas pela CSC não participarão de federações e confederações orgânicas, devem sair dos coletivos cutistas e colocar os cargos que eventualmente ocupam nos conselhos à disposição da CUT
4 - As entidades lideradas pela CSC devem contribuir financeiramente para a construção da central classista e democrática com um valor equivalente a 5% de sua arrecadação, se urbanas, ou 3%, no caso dos sindicatos rurais
5 - As coordenações estaduais da CSC devem construir ativamente os encontros estaduais do Movimento pela Central Classista e Democrática, organizando comitês unitários, buscando maior ampliação, atraindo principalmente as entidades independentes e concentrando esforços para a conquista de adesões ao Manifesto por uma Central Classista e Democrática
6 - A CSC deve estar na linha de frente da mobilização nacional pelo êxito da Marcha de Brasília, convocada pelas centrais para 5 de dezembro, tendo como principal bandeira a redução da jornada de trabalho sem redução de salários, assim como protagonizar as principais lutas em curso até o congresso da central classista, quando definiremos, coletiva e democraticamente, as bandeiras de luta trabalhistas e políticas do sindicalismo classista no Brasil.
CSC abre 'pólo sindical' para federações de trabalhadores
O 7º Encontro Corrente Sindical Classista (CSC), que está ocorrendo em Salvador (BA), é a primeira etapa do processo organizativo de um pólo sindical classista e democrático que provocará alterações significativas no país. Esta é a avaliação de dirigentes sindicais de diferentes localidades. "Uma central com essas características tem uma grandeza que vai além do movimento sindical porque ela será indutora da unidade dos trabalhadores e um espaço para a propagação de novas idéias", diz Edson de Paula Lima, presidente da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino.
"Essa decisão mexe com a política social porque cria uma nova dinâmica de participação do movimento social na vida do país", afirma. Para Edson, a CSC chegou a essa conclusão e atingiu um elevado nível de organização porque adota um método correto para encaminhar as coisas. "A coordenação nacional da CSC tratou os encaminhamentos dessa questão de forma exemplar, com democracia, ouvindo opiniões e não fechando portas para diferentes concepções sindicais que viram na nossa iniciativa uma oportunidade de impulsionar o movimento sindical no rumo da luta", diz ele.
"Não podemos esquecer, neste momento, a luta ideológica", ressalta Edson ao comentar a proximidade do fim das concessões para várias unidades da Rede Globo de Televisão e a necessidade de meios de comunicação democráticos para divulgar as idéias dos trabalhadores.
Federação Sindical Mundial
Wagner Fajardo, presidente da Federação Nacional dos Metroviários, tem a mesma opinião. "Estamos na verdade criando condições para uma união do movimento sindical em patamares mais elevados", afirma ele. "Além do avanço organizativo no Brasil, estamos dando passos importantes também para consolidar uma tendência sindical de abrangência internacional", diz Fajardo, lembrando a ligação da CSC com a Federação Sindical Mundial (FSM).
Ele destaca, nesse sentido, a necessidade de priorizar o Fórum Sindical das Américas. "O movimento sindical precisa ser mais incisivo na luta pelas transformações sociais, dando apoio efetivo à heróica luta de Cuba, da Venezuela e da Bolívia por avanços democráticos e socais", ressalta. "A nossa central terá também essa prática, que não se limitará à América Latina, e enfatizará o fortalecimento da organização por ramos", finaliza Fajardo.
Muita responsabilidade
Para o presidente da Federação dos Trabalhadores no Comércio e Serviços do Estado do Rio Grande do Sul, Guiomar Vidor, o histórico de homogeneidade da CSC é um fator importante nessa nova empreitada. "Nossa central será ampla e democrática exatamente porque praticamos um sindicalismo que tem na unidade sua mais importante bandeira", diz ele. "Existe um espaço que a nossa central se propõe a ocupar e isso demanda muita responsabilidade da nossa parte", ressalta.
"A CSC compreende muito bem esse papel porque pratica um sindicalismo baseado na máxima de ampliar para radicalizar", destaca Guiomar Vidor. Para ele, essa prática tem ficado bem clara nos encaminhamentos que CSC vem fazendo neste processo de criação da central.
Pólo combativo e amplo
"No meu estado, por exemplo, formou-se uma tendência, desde os debates a respeito da reforma sindical, que vê na CSC um pólo decisivo para a reorganização do movimento sindical", diz ele. "Isso dá um frio na barriga, por causa da enorme responsabilidade, mas temos a certeza de que este é um caminho para dar respostas concretas aos problemas novos que enfrentamos particularmente no Brasil e na América Latina", finaliza.
Adilson Araújo, secretário de imprensa do Sindicato dos Bancários da Bahia, diz que a busca por pontos comuns é o caminho para unificar o movimento sindical. "A CSC está diante de um momento histórico e este Encontro expressa isso", diz.
"Nossa concepção está mostrando resultados nesse processo de transição para uma nova etapa do sindicalismo brasileiro", afirma Adilson. "A CUT expressa uma concepção sindical limitada à colaboração de classes e a nossa central aparece como a oportunidade de criar um pólo combativo e amplo."
De Salvador,
Osvaldo Bertolino
É 'hora perfeita' para criar central, diz Renato Rabelo
Um plenário lotado recebeu o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, para falar de conjuntura nacional e internacional, neste sábado (29), segundo dia do 7º Encontro Nacional da Corrente Sindical Classista, que acontece no Ginásio de Esporte do Sindicato dos Bancários da Bahia, em Salvador. Dispostos a discutirem a criação de uma central de trabalhadores nova, os participantes saudaram calorosamente Rabelo aos gritos de "Viva o Partido Comunista do Brasil."
Como resposta, ouviram Renato apontar o surgimento da central classista como divisor de águas para o movimento sindical brasileiro - aporte para a os trabalhadores conquistarem mais espaços nas decisões do país. "A hora é perfeita para a criação da Central, pois o Brasil precisa de uma entidade ética, democrática e plural na defesa do trabalhador," afirmou.
Em sua explanação, o presidente do PCdoB elogiou a postura adotada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na reunião da Organização das Nações Unidas, quando defendeu a soberania do Brasil sobre a Amazônia, deixando clara sua disposição de não entregá-la ao capital estrangeiro. Renato defendeu a decisão de Lula de formar um bloco de cooperação com países do terceiro mundo, como a Venezuela - "parceiro estratégico para o fortalecimento do Mercosul".
O comunista avaliou como avançada e progressista a política externa do governo Lula, que internamente poderia avançar mais nas questões ligadas aos trabalhadores. Rabelo criticou também a postura adotada pela mídia, apontada como grande partido de direita no país, principalmente nas matérias relacionadas à Venezuela e às mudanças realizadas pelo presidente Hugo Chávez no país vizinho.
Sobre a conjuntura nacional, Renato salientou as dificuldades de governar o país sem alianças com partidos de centro-esquerda. Para ele, a crise enfrentada pelo governo é o resultado da união de correntes heterogêneas na base de sustentação do governo no Congresso. A solução é a criação de uma frente ampla e progressista - o Bloco de Esquerda -, que seria o núcleo nas ações para aprovar as mudanças necessárias para o desenvolvimento social do país.
A importância dos comunistas para a criação dessa frente foi ressaltada por Renato, que falou da preocupação do PT com a criação da central classista - que aparece com grande força num momento em que o PT está com uma postura mais ao centro e a CUT está perdendo força. A central, segundo Renato, terá um grande papel no novo cenário político que se desenha.
O presidente do PCdoB defendeu ainda a postura do partido diante da conjuntura atual, ressaltando a importância de não fazer o jogo da direita nas críticas ao governo federal. Na opinião de Renato, os dois mandatos de Lula representam um começo para os planos de mudanças pretendidos pelo partido. "Precisamos abrir caminho para uma transição para o socialismo," disse.
De Salvador,
Eliane Costa