Mais de 500 médicos lançam manifesto em defesa da vida e contra Bolsonaro
Por iniciativa da Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia – ABMMD, foi lançando nesta terça-feira (16/3) um manifesto em defesa da vida, da ciência e do Sistema Único de Saúde (SUS). O documento traz ainda fortes críticas ao presidente Jair Bolsonaro e à condução da pandemia do governo federal. Os médicos e médicas consideram que sem uma “grande mudança” a situação seguirá piorando.
O médico-cirurgião Ramon Rawache, integrante do Coletivo Rebento, ressaltou que a decisão de elaborar o manifesto veio da necessidade de mostrar para as pessoas que existe uma corrente de médicos que defende a Ciência e pensam “exatamente o contrário” dos que defendem Bolsonaro. “A gente se assusta, porque nossa formação acadêmica é baseada na Ciência, mas por outro lado a gente não se admira, porque esse percentual está na sociedade como um todo”, enfatizou.
“Em vez de vacinação, falam de ivermectina e cloroquina. Em vez de incentivar a prevenção e de salvar vidas, fazem chantagem com a falsa dicotomia “vida ou trabalho”, promovem carreatas ilegais e “fake news”. Falta respeito à saúde pública e a cada cidadão”, afirma o documento.
Os médicos defendem que Bolsonaro presidente seja responsabilizado judicialmente por sua conduta durante a pandemia. O procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmou no mês passado que abriu nove procedimentos preliminares que miram a atuação do chefe do Executivo federal durante a pandemia. Aras vem sofrendo pressão para investigar mais a fundo a responsabilidade das autoridades do governo federal durante a pandemia.
“São inúmeras as declarações do presidente Bolsonaro em desrespeito aos profissionais de saúde, às vítimas da Covid-19 e aos seus familiares. De ‘não sou coveiro’ à ordem para ‘invadir e filmar hospitais’. De ‘deixem de mimimi’ até a lamentação pela aprovação da vacina”, diz o documento.
O grupo também apoia iniciativas de governadores e prefeitos para adquirir as vacinas diretamente, sem intermediação da gestão federal. Eles consideram que a aquisição de imunizantes, antes comandada pelo general Eduardo Pazuello que está sendo substituído pelo médico Marcelo Queiroga, enfrenta “absoluta lentidão”.
“O que a gente tem de tratamento é a prevenção, que se faz com isolamento social, uso de máscara, lavagem de mãos e vacinação. É preciso cobrar essa vacinação, pressionar os governantes para que as doses saiam. A Ciência não tem lado, mas sim aplicabilidade. Acreditem na Ciência”, insistiu Rawache.
Adesões ao manifesto pode ser feitas pelo WhatsApp +55 85 9868-8211 ou na página da ABMMD – CE no Facebook.
Confira a íntegra do manifesto:
Manifesto dos Médicos Cearenses em Defesa da Vida, da Ciência, do SUS: Defenda a vida!
O Brasil se tornou o epicentro da pandemia de Covid-19, com a morte de mais de 278 mil pessoas. Mais de 2 mil óbitos por dia! Sentimento de luto também por colegas que estavam na linha de frente, expondo suas vidas para salvar vidas, num compromisso de humanidade.
Sem uma grande mudança no plano nacional, essa situação, já inaceitável, seguirá infelizmente piorando. O Governo Federal boicota, desde o início, as medidas de combate à pandemia.
Poderíamos até dizer que por incompetência, mas não: é justamente esse o projeto.
Nossos corpos, os corpos dos colegas médicos e de tantos outros profissionais de saúde, estão na linha de frente, com exaustão e dor. Nunca tivemos tantos colegas adoecendo e falecendo.
Enquanto isso, são inúmeras as declarações do presidente Bolsonaro em desrespeito aos profis- sionais de saúde, às vítimas da Covid-19 e aos seus familiares. De “não sou coveiro” à ordem para “invadir e filmar hospitais”. De “deixem de mimimi” até a lamentação pela aprovação da vacina.
Em vez de vacinação, falam de ivermectina e cloroquina. Em vez de incentivar a prevenção e de salvar vidas, fazem chantagem com a falsa dicoto- mia “vida ou trabalho”, promovem carreatas ilegais e “fake news”. Falta respeito à saúde pública e a cada cidadão.
Como médicas e médicos, reivindicamos e reafirmamos:
1. Precisamos urgentemente de uma saída humanitária para essa grave crise! É funda- mental garantir que a maior parte da popu- lação seja vacinada de forma rápida para impedir nova onda de casos. É necessário o isolamento social, para diminuir as mortes enquanto a vacina não chega a mais gente. É vital o auxíilio emergencial em valor condiz- ente com a dignidade;
2. Não podemos nos calar diante do projeto que prioriza a morte. Repúdio é o nosso senti- mento pelo governo Bolsonaro;
3. Diante das pesquisas científicas e por princípio ético, nos recusamos a utilizar trata- mentos e medicamentos sem comprovação científica de eficácia. Repudiando a insistência nesse caminho, defendemos as condutas corre- tas, que salvam vidas, com base na ciência;
4. Apoiamos a iniciativa dos governadores e prefeitos em ampliar a rede de assistência à saúde, em tomar as medidas de proteção coletiva e, inclusive, em adquirir vacinas eles mesmos, diante da absoluta lentidão do Gover- no Federal em tomar essas medidas;
5. Exigimos a responsabilização de Bolsona- ro e de seu governo, que não tiveram serie- dade contra a pandemia, permitindo que o País chegasse à atual situação, motivo de vergonha, lamento, preocupação, para nós e para o mundo.
Basta! Chega de desrespeito à vida! Chega de projeto de morte! Nós, abaixo assinados, médi- cas e médicos do Ceará, reivindicamos a defesa da vida, da ciência, do SUS.
Fortaleza, 16 de março de 2021
