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Sobreviventes do Massacre de Eldorado dos Carajás serão indenizados

Esta indenização deverá favorecer 30 sobreviventes. Outros 20 conseguiram na justiça em 2005, uma indenização de R$ 1,2 milhão, porém até hoje eles não receberam o dinheiro



O governo do estado do Pará fechou um acordo no início desta semana com os integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), vítimas do Massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido há onze anos. O acordo estabelece o pagamento de R$ 20 mil para cada sobrevivente, assistência de saúde e a elaboração de projeto de lei para garantir pensão no valor de um salário mínimo e meio para cada sobrevivente.


Esta indenização deverá favorecer 30 sobreviventes. Outros 20 conseguiram na justiça em 2005, uma indenização de R$ 1,2 milhão, porém até hoje eles não receberam o dinheiro. O Major José Maria Pereira e o Coronel Collares Pantoja, que comandaram a ação da polícia foram condenados, mas recorreram da decisão e hoje estão em liberdade.


O massacre ficou conhecido internacionalmente depois que 140 policiais que por ordem do então governador do Pará, Almir Gabriel, (PSDB) executaram 19 trabalhadores e deixaram 69 feridos. A ação da polícia foi justificada pela tentativa de desobstruir a rodovia PA-150, onde os trabalhadores protestavam pedindo que fosse implantado o assentamento prometido para as famílias da região. Os sobreviventes ficaram com diversas seqüelas, como balas alojadas pelo corpo, além de dificuldades para andar e se alimentar.


A história


17 de abril de 1996, rodovia PA-150, próximo a Eldorado dos Carajás, sul do Pará. Trabalhadores rurais sem terra organizados pelo MST, inclusive mulheres e crianças, que marchavam até Belém para pressionar o governo estadual pela desapropriação da fazenda Macaxeira, haviam decidido na véspera reivindicar ônibus ou caminhões para acelerar a chegada à capital. Eles bloquearam a rodovia; a tropa da PM foi acionada e em pouco tempo houve uma negociação, prontamente atendida pelo MST: os ônibus seriam enviados se eles desbloqueassem a rodovia.


O que parecia ser um ato de boa vontade foi, ao que tudo indica, uma armadilha: segundo relatos de sobreviventes do massacre, as promessas do comandante da PM não foram cumpridas. A PM bloqueou a rodovia com um caminhão, e tropas vindas dos dois sentidos da rodovia (de Marabá e de Parauapebas) encurralaram os trabalhadores sem terra, armados apenas com paus, pedras e suas ferramentas. É sabido que os soldados vieram fortemente armados e não estavam identificados... algo muito incomum para uma simples desocupação de rodovia, ainda mais quando se trata de pessoas desarmadas.


A PM chegou lançando bombas de gás lacrimogêneo e atirando, primeiro para o alto e depois em direção aos manifestantes. Não houve qualquer tipo de negociação. Diante da brutalidade da PM, os sem terra tentaram se defender com o que tinham às mãos - paus, pedras, ferramentas de trabalho e tiveram que recuar. Muitos foram mortos e feridos. No total, 19 homens foram assassinados e, segundo a perícia, em muitos casos à queima-roupa, com tiros no tórax ou na cabeça. Outros foram chacinados a golpes de foice e de facão, quando já estavam feridos ou totalmente imobilizados. Não há relatos de mulheres e crianças terem sido assassinadas, o que sugere uma seletividade por parte da PM. O exército teve uma participação antes do massacre, com infiltração e trabalho de inteligência. A repressão fez um trabalho de coleta de informações, identificando as lideranças mais combativas. De acordo com relatos de sobreviventes,


"Eles [os policiais] estavam procurando as lideranças, os mais jovens e homens. Às vezes fazíamos reuniões, de vez em quando tinham policiais. O major Oliveira [um dos comandantes da tropa da PM na operação] sempre ia ao nosso acampamento negociar com o finado Oziel. Ele via que na nossa reunião tinha mais jovens e homens". Miguel Pontes da Silva, 42 anos, sobrevivente do massacre.



*MST com informações adicionais da FEEB-RS

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