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Dilma não faça como Lula: enquadre a direção do BB, BNB e Caixa

Ricardo Carvalho

Uma das argumentações que me convencia da necessidade da mesa única de negociação na campanha salarial dos bancários, aliás ingenuamente formuladas por algumas lideranças, era de que com a unificação, o governo poderia intervir diante de um impasse estabelecido pelos banqueiros e apresentar proposta que realmente recuperasse o valor das perdas acumuladas pelos bancários da rede pública na era FHC e assim, a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), entidade que representa os bancos privados, tenderia, em tese, a seguir uma proposta que poderia não ser a mesma, porém com ganhos significativos para os trabalhadores do ramo financeiro. Ledo engano.

A primeira Campanha Salarial Unificada, ou mesa única de negociação para bancos públicos e privados, ocorreu no primeiro ano de mandato do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, em 2003.  Naquele ano, os trabalhadores de bancos privados aceitaram reajuste de 12,6%, sem deflagração de greve.

Os bancários do Banco do Brasil e da Caixa deflagraram greve e conquistaram o mesmo percentual de reajuste dos bancos privados além do pagamento de abono de R$ 1500, também pago aos bancários da rede privada, assim como a mesma PLR do restante da categoria. Como não poderia deixar de ser, estávamos sob a égide de um governo do Partido dos Trabalhadores (PT) e tornava-se necessário romper com a truculência, a arbitrariedade e a política de reajuste zero nos bancos públicos, uma herança maldita do governo neoliberal de FHC.  Por isso e por causa de uma greve forte, aconteceu o primeiro acordo com reajuste para os trabalhadores bancários nos bancos públicos, que passaram os governos FHC sem negociação salarial.

Nos anos que se seguiram aconteceu greve em todo o setor bancário e a cada impasse estabelecido nos oitos anos da “Era Lula”, os bancários torciam para que o “governo dos trabalhadores” interviesse na mesa única com apresentação de proposta decente e assim levaria a reboque a Fenaban, já que a categoria da rede privada poderia continuar a greve, forçando os banqueiros a apresentar proposta semelhante aprovada pelos colegas da rede pública. Ficamos oito anos esperando por isso. Enquanto isso, o “governo dos trabalhadores” e sua equipe econômica se curvaram para o setor financeiro e nem a reforma do sistema saiu do papel no Congresso Nacional. Muito pelo contrário, os banqueiros ganharam e lucraram como em nenhum outro período da história do Brasil.

Fica o recado para a presidenta Dilma Roussef (PT):  sabemos que sua história política não teve início no PT, partido que, em tese, deveria “cuidar” dos trabalhadores. Porém, a sociedade tem apoiado seu “estilo” de governar até agora, como indicou a última pesquisa sobre sua administração. Também sabemos da preocupação deste e de outros governos  em relação à velha cantilena neoliberal de contenção dos gastos públicos sob a mesma e antiga alegação do perigo que representa a crise econômica capitalista mundial para o Brasil.

Sabemos também que o setor financeiro não deixou de lucrar muito dinheiro mesmo diante dessas crises e que a criação do DEST (Departamento de Coordenação e Controle das Empresas Estatais) foi uma invenção do neoliberalismo de FHC para arrochar os salários dos trabalhadores destas empresas, auferir mais lucros e destiná-los a sabe-se lá para qual destino. Na minha opinião, os salários dos bancários do BB, Caixa, BNB e Basa não deveriam está na mira de interesses de alguns “notáveis” que compõe a direção do DEST. Aliás, esse departamento deveria ser extinto imediatamente.

Enquanto isso, os bancários do Banco do Brasil, Caixa Econômica, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia amargam perdas históricas daquele período e que a “Era Lula” não resgatou. O governo Lula nem sequer contemplou um calendário para resgate dessa dívida da categoria. Preferiu agradar aos banqueiros e acionistas desses bancos.

Diante do exposto presidenta Dilma, não tá na hora de valorizar o trabalho dos bancários dos bancos públicos que tanto se esforçam no dia a dia das agências, enfrentando toda sorte de arbitrariedades, principalmente o famigerado assédio moral e enquadrar essas administrações, forçando-os a apresentarem proposta decente de aumento real, recuperação das perdas históricas, consolidação e ampliação de direitos?

Faça diferente presidenta Dilma. Ficaremos do teu lado.

*Ricardo Carvalho, diretor da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe, funcionário do Itaú/Unibanco

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