Dilma reconhece desindustrialização e promete combatê-la
A CTB considera positivo o saldo da
reunião entre representantes das seis maiores centrais sindicais e a
presidenta Dilma Rousseff, ocorrida em Brasília na última quarta-feira,
15. Foram cerca de três horas de conversa. O controvertido processo de
desindustrialização da economia nacional, associado à guerra cambial,
acabou centralizando os debates.
A presidenta revelou preocupação com o
tema. Disse que o governo está tomando as providências cabíveis para
evitar a valorização excessiva do real e prometeu todo apoio à Emenda
72, que estabelece a uniformização da cobrança de ICMS em todos os
Estados nas operações interestaduais com base em mercadorias
provenientes do exterior a fim de coibir estímulos fiscais às
importações.
Ela ressalvou que o problema não é
simples e as medidas no sentido de solucioná-lo despertam contradições e
conflitos entre diferentes setores e ramos da economia (agricultura,
comércio e indústria, por exemplo, não comungam os mesmos interesses em
relação ao comércio exterior), bem como em regiões e unidades da
Federação. Por esta razão, entende que o remédio deve ser administrado
em doses homeopáticas.
De acordo com a presidenta quem
especular com o câmbio na esperança de lucrar com a valorização do real
vai acabar perdendo dinheiro, pois o governo está atento e pretende
tomar todas as medidas necessárias para manter o valor do real em nível
que não comprometam ainda mais a competitividade da indústria
brasileira. “Se for preciso”, assegurou, “eu edito uma Medida Provisória
por dia para garantir que não tenha desvalorização”.
A audiência ajuda a oxigenar as
relações entre o Palácio do Planalto e as centrais sindicais, que não
mediram esforços em apoio a Dilma nas eleições presidenciais de 2010.
Mas isto não significa o fim das divergências, que hoje se concentram
principalmente na orientação macroeconômica conservadora. O governo não
dá sinais de que pretende mudá-la.
É possível perceber os reflexos da
desindustrialização no mercado de trabalho na redução de 1,2% do nível
de emprego no setor de manufaturados registrado pelo IBGE desde agosto
do ano passado. A principal causa do fenômeno é a valorização do real em
relação ao dólar, estimulada pelo que a nossa presidenta chamou de
tsunami monetário decorrente das políticas monetárias frouxas dos países
ricos (EUA, Europa e Japão), traduzidas em taxas de juros baixíssimas,
expansão do crédito e emissão trilionária de moedas. Isto redunda numa
superoferta de dólares no mundo, especialmente nas chamadas economias
emergentes.
Mas os efeitos do tsunami monetário,
em nosso caso, são fortemente ampliados pela política econômica, a
começar pelos juros altos, que atraem investimentos especulativos de
diferentes modalidades, incluindo os que são classificados como
investimentos diretos, supostamente produtivos. O governo tenta
contornar o problema recorrendo a medidas como o aumento do IOF, cujo
alcance têm se revelado limitado.
Além da taxa de juros, que é a maior
do mundo, a política de câmbio flutuante, herança do neoliberalismo
tucano que a equipe econômica parece considerar intocável, facilita a
especulação e, a seu modo, também contribui para a valorização do real e
a desindustrialização. A China e outros países se protegem melhor
controlando o câmbio e a circulação de capitais estrangeiros.
A CTB não vai abrir mão da luta por
mudanças na política econômica, que compreende ainda uma redução
substancial do superávit primário e maior taxação e restrição das
remessas de lucros ao exterior pelas multinacionais. Sem iniciativas
nesta direção o Brasil não vai abrir caminho para um novo projeto
nacional de desenvolvimento fundado na soberania, democracia e
valorização do trabalho.
As centrais devem se reunir com a
equipe econômica do governo provavelmente em abril para discutir algumas
bandeiras específicas do movimento sindical, entre elas o fim do fator
previdenciário, a Convenção 158 da OIT e a redução da jornada de
trabalho sem redução de salários.
Wagner Gomes é presidente da CTB