Salário mínimo: o outro lado da moeda
O
governo da presidente Dilma Rousseff convive em seus primeiros dias com
duas “verdades” que soam como absolutas, embora uma delas esteja muito
distante dessa definição. A primeira mostra que é preciso cortar os
gastos públicos, como forma de se conter a inflação e colocar as contas
do governo federal nos eixos; a outra evoca o fato de que a política de
valorização do salário mínimo foi uma das responsáveis pelo bom momento
econômico vivido pelo Brasil, a despeito da crise internacional que
ainda assombra diversos países.
Diante
de tais “dogmas”, como deveria agir o governo recém-instalado no
Palácio do Planalto para definir o valor do salário mínimo para 2011?
Por que interromper a política iniciada durante o governo Lula? Por que a
falta de diálogo com a classe trabalhadora em torno dessa questão?
A
imprensa vem noticiando nos últimos dias que as centrais sindicais têm
sido muito duras com o novo governo, mas não é esse o ponto crucial do
debate. O fato é que a proposta de reajuste para R$ 545,00 está na
contramão daquilo que foi colocado em prática – com sucesso – nos
últimos anos. É frustrante acompanhar o ressurgimento da tese de que os
salários deterioram as contas públicas, especialmente porque esse
ideário não fez parte do programa com o qual a presidente Dilma foi
eleita – ao contrário, fazia parte do discurso da oposição.
Estudos
do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos) demonstram que 47 milhões de pessoas são diretamente
beneficiadas pelo aumento do salário mínimo. É nesse universo que está
um dos principais pilares de sustentação do crescimento da economia
brasileira, responsável pelas excelentes perspectivas para o curto,
médio e longo prazos do país.
Setores
do governo argumentam que o reajuste para R$ 545,00 corresponde ao
valor acordado com as centrais sindicais, a partir da fórmula que
utiliza a variação do Produto Interno Bruto e a inflação anual. Esse é
um viés bastante discutível, pois não é essa a expectativa criada por um
governo comprometido com o desenvolvimento do país. O PIB negativo de
2009 foi um ponto fora da curva, que não pode servir de pretexto para
interromper o ciclo de crescimento real dos salários.
Essa
discussão não pode ser encerrada por meio de uma Medida Provisória,
conforme demonstra a equipe econômica do novo governo. É preciso mais
diálogo com a sociedade e com os movimentos sociais em geral. Se as
centrais sindicais hoje pressionam por um reajuste maior do salário
mínimo, isso é mero reflexo do que anseia a classe trabalhadora do país,
setor que apoiou em massa a continuidade do projeto iniciado pelo
presidente Lula e viu em Dilma Rousseff a líder ideal para conduzir o
Brasil a um novo patamar de desenvolvimento.
Wagner Gomes é presidente nacional da CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil