Dilma não faça como Lula: enquadre a direção do BB, BNB e Caixa
Uma das argumentações que me convencia da necessidade da mesa única de negociação na campanha salarial dos bancários, aliás ingenuamente formuladas por algumas lideranças, era de que com a unificação, o governo poderia intervir diante de um impasse estabelecido pelos banqueiros e apresentar proposta que realmente recuperasse o valor das perdas acumuladas pelos bancários da rede pública na era FHC e assim, a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), entidade que representa os bancos privados, tenderia, em tese, a seguir uma proposta que poderia não ser a mesma, porém com ganhos significativos para os trabalhadores do ramo financeiro. Ledo engano.
A primeira Campanha Salarial Unificada, ou mesa única de negociação para bancos públicos e privados, ocorreu no primeiro ano de mandato do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, em 2003. Naquele ano, os trabalhadores de bancos privados aceitaram reajuste de 12,6%, sem deflagração de greve.
Os bancários do Banco do Brasil e da Caixa deflagraram greve e conquistaram o mesmo percentual de reajuste dos bancos privados além do pagamento de abono de R$ 1500, também pago aos bancários da rede privada, assim como a mesma PLR do restante da categoria. Como não poderia deixar de ser, estávamos sob a égide de um governo do Partido dos Trabalhadores (PT) e tornava-se necessário romper com a truculência, a arbitrariedade e a política de reajuste zero nos bancos públicos, uma herança maldita do governo neoliberal de FHC. Por isso e por causa de uma greve forte, aconteceu o primeiro acordo com reajuste para os trabalhadores bancários nos bancos públicos, que passaram os governos FHC sem negociação salarial.
Nos anos que se seguiram aconteceu greve em todo o setor bancário e a cada impasse estabelecido nos oitos anos da “Era Lula”, os bancários torciam para que o “governo dos trabalhadores” interviesse na mesa única com apresentação de proposta decente e assim levaria a reboque a Fenaban, já que a categoria da rede privada poderia continuar a greve, forçando os banqueiros a apresentar proposta semelhante aprovada pelos colegas da rede pública. Ficamos oito anos esperando por isso. Enquanto isso, o “governo dos trabalhadores” e sua equipe econômica se curvaram para o setor financeiro e nem a reforma do sistema saiu do papel no Congresso Nacional. Muito pelo contrário, os banqueiros ganharam e lucraram como em nenhum outro período da história do Brasil.
Fica o recado para a presidenta Dilma Roussef (PT): sabemos que sua história política não teve início no PT, partido que, em tese, deveria “cuidar” dos trabalhadores. Porém, a sociedade tem apoiado seu “estilo” de governar até agora, como indicou a última pesquisa sobre sua administração. Também sabemos da preocupação deste e de outros governos em relação à velha cantilena neoliberal de contenção dos gastos públicos sob a mesma e antiga alegação do perigo que representa a crise econômica capitalista mundial para o Brasil.
Sabemos também que o setor financeiro não deixou de lucrar muito dinheiro mesmo diante dessas crises e que a criação do DEST (Departamento de Coordenação e Controle das Empresas Estatais) foi uma invenção do neoliberalismo de FHC para arrochar os salários dos trabalhadores destas empresas, auferir mais lucros e destiná-los a sabe-se lá para qual destino. Na minha opinião, os salários dos bancários do BB, Caixa, BNB e Basa não deveriam está na mira de interesses de alguns “notáveis” que compõe a direção do DEST. Aliás, esse departamento deveria ser extinto imediatamente.
Enquanto isso, os bancários do Banco do Brasil, Caixa Econômica, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia amargam perdas históricas daquele período e que a “Era Lula” não resgatou. O governo Lula nem sequer contemplou um calendário para resgate dessa dívida da categoria. Preferiu agradar aos banqueiros e acionistas desses bancos.
Diante do exposto presidenta Dilma, não tá na hora de valorizar o trabalho dos bancários dos bancos públicos que tanto se esforçam no dia a dia das agências, enfrentando toda sorte de arbitrariedades, principalmente o famigerado assédio moral e enquadrar essas administrações, forçando-os a apresentarem proposta decente de aumento real, recuperação das perdas históricas, consolidação e ampliação de direitos?
Faça diferente presidenta Dilma. Ficaremos do teu lado.
*Ricardo Carvalho, diretor da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe, funcionário do Itaú/Unibanco