Bancários do Santander debatem intensificação da luta e da organização
O Encontro Nacional dos Funcionários do Santander reuniu bancários e bancárias de diversas regiões do Brasil nesta sexta-feira (22/8), em São Paulo, para debater temas importantes como análise de conjuntura e destaques dos dados e do balanço do banco. Os participantes relembraram ainda como foram as negociações para a celebração do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) específico, com validade até 31 de agosto de 2026.
No evento também foram debatidas as atividades mobilização, organização e enfrentamento que já foram realizadas nas bases das federações e as ações que ainda são necessárias.
O encontro iniciou com a economista e técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Vivian Machado, fazendo uma análise econômica e dos dados do Santander. Em nível global, o banco espanhol obteve, no primeiro semestre de 2025, o melhor resultado trimestral e semestral de sua história, com lucro de 6,8 milhões de euros. O resultado nacional do Santander também foi positivo no primeiro semestre, com lucro de R$ 7,520 bilhões no Brasil, um aumento de 18,4% em relação ao mesmo período de 2024.
Vivian também falou sobre os negócios do banco e apontou a tecnologia como impulsionadora dos resultados, já que Santander aumentou os investimentos nessa área e reduziu os gastos com estrutura. Na sequência, a economista abordou a queda semestral nas despesas em geral do banco e a consequente melhora no índice de eficiência, que chegou em 36,8%, o melhor índice entre os bancos privados. “O banco alega que houve uma mudança de cultura. O Santander seria um banco que saiu do banco, em que a agência passou a ser loja, o gerente passou a especialista e a receita a comissão”, afirmou. Com isso, veio o fechamento de pontos de atendimento. Por outro lado, entre 2019 e 2024, o número de trabalhadores no Brasil cresceu 16,4%, passando de 47.819 para 55.646. No mesmo período, as despesas de pessoal do grupo caíram 4,1%. E a despesa média por trabalhador diminuiu 17,6%.
Para finalizar, a economista listou os impactos dessa transferência de trabalhadores promovida pelo banco. “Para os trabalhadores, há precarização nas relações de trabalho, menores remunerações, flexibilização e fragmentação da categoria e prática antissindical que infringe a liberdade sindical e a proteção ao Direito Sindical. Já para a sociedade, há redução do efeito multiplicador da renda, com impacto no consumo e na economia local, e queda na arrecadação do Imposto de Renda, do Fundo de Garantia (FGTS) e no INSS”, encerrou.
Os impactos da IA no sistema financeiro
O segundo debate do Encontro Nacional foi realizado pelo cientista político e professor universitário, Moisés Marques, que fez uma análise de conjuntura com o tema “o mundo de ‘ponta cabeça’ e as consequências para o Sistema Financeiro Nacional (SFN)”. Para começar, o professor destacou dois pontos principais neste debate: a fragmentação econômica e financeira e as transformações tecnológicas e seus riscos globais.
No cenário internacional, ele apontou alguns fatos importantes, como a mudança do papel da China no cenário internacional, a possível estagflação nos Estados Unidos, com possibilidade de uma grave crise econômico-financeira, a crise das instituições de governança globais do pós-guerra, a aceleração da transição demográfica e das mudanças ambientais e climáticas e as mudanças oriundas da Inteligência Artificial (IA). “Não podemos deixar de acrescentar a interferência da Gestão Trump em diversas questões globais”, provocou.
Já no cenário nacional, Moisés destacou que a economia tem apresentado dados interessantes e que o Governo Lula começa a ter mais aprovação da população. “O crescimento do País está acima do imaginado, mas a taxa de juros continua alta. Por outro lado, temos a melhor taxa de emprego dos últimos anos, mas a Câmara segue criando uma série de dificuldades para o País”, enumerou.
No Sistema Financeiro Nacional, o que se tem visto, ao longo dos anos, é uma drástica redução do número de bancos e o aparecimento dos bancos digitais e das fintechs. “Que são empresas que se dizem bancos, mas não são. Que atuam como se fossem banco e têm tamanho de banco”, ironizou. “Ou seja, as fintechs passaram a ser parte do sistema. Hoje são 1.481 instituições com 100 mil funcionários. Além disso, são empresas que tornaram os processos altamente tecnológicos, sem a necessidade de pessoas”, acrescentou.
O diretor da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe e membro da COE Santander, José Antônio dos Santos, também participou da mesa. Em sua fala, ele fez uma abordagem diferente sobre o emprego no setor financeiro. “Quando as pessoas falam que a categoria bancária é uma espécie de extinção, eu vou na contramão, dizendo o seguinte: que se hoje nós temos em torno de 400 mil bancários e já fomos um milhão, parte destes 600 mil bancários ainda estão no ramo financeiro, pejorizado ou terceirizado, e que a categoria está sofrendo os reflexos da política de terceirização que foi implementada, sobretudo após a reforma trabalhista”.
Para ele, os trabalhadores precisam se unir para vislumbrar um futuro diferente. “O nosso compromisso maior é eleger um Congresso progressista e reeleger Lula, pois só assim, nós poderemos exigir de um Congresso progressista as reformas que se impõem diante da atual legislação trabalhista e também a regulamentação do sistema financeiro. Mas, nós só vamos conquistar essa reforma, ou implementar essa reforma, se tivermos um Congresso progressista em defesa do Brasil, em defesa dos trabalhadores”, acrescentou José Antônio.