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Outubro Rosa 2022

Receitas com tarifas já superam antigos ganhos com a inflação


As receitas com prestação de serviços, que crescem de forma sistemática desde o fim da inflação, atingiram 143% dos gastos com pessoal e tudo indica que deverão continuar evoluindo



Esses ganhos já superam os que os bancos conseguiam com o chamado float inflacionário nos anos 80 e 90, quando investiam os recursos dos depósitos à vista no mercado de overnight e obtinham ganhos de 40% ao mês.


Nem mesmo possíveis medidas do governo devem limitar esses ganhos, explica o diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira. "Os bancos podem compensar eventuais perdas com aumento do número de clientes e com crédito", avalia.


O governo pretende obrigar os bancos a respeitar prazos para o reajuste das tarifas cobradas de seus clientes. Essa é uma das principais medidas de regulação que o Conselho Monetário Nacional deverá aprovar em reunião extraordinária no final da próxima semana.


A quantidade de tarifas bancárias também deve ser reduzida pela metade. Atualmente, excluídas as operações cambiais, são aproximadamente 50 taxas.


Levantamento da Austin Ratings mostra que a participação da prestação de serviços (que inclui as tarifas) nas receitas totais subiu de 7,6%, em dezembro de 1994, para 21,2%, em setembro deste ano.


"Foi essa evolução que chamou a atenção do governo e da sociedade", diz o presidente da Austin, Erivelto Rodrigues. "O forte crescimento da base clientes e das concessões de crédito é que possibilitaram esse crescimento", explica o especialista.


Mas a percepção do mercado é de que o limite ainda está longe de ser atingido pelas instituições. "É legítimo que o governo queira tomar uma atitude, por outro lado, é legítimo que os bancos queiram cobrar pelos serviços prestados", pondera o presidente da Austin Ratings.


Os próprios bancos explicam que esse percentual de 20% ainda é mais baixo do que o praticado no resto do mundo. "Os serviços dos bancos brasileiros certamente não são os mais caros", explica o diretor de relações institucionais da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Mário Sérgio Vasconcelos. "Em alguns países, a relação entre serviços e receita total atinge 40%, 50%", completa.


A justificativa da entidade para esses ganhos terem crescido fortemente nos últimos anos no Brasil é que com a estabilização econômica essas receitas ganharam importância. "As receitas de prestação de serviços são fundamentais para a robustez do sistema financeiro", diz Vasconcelos.


Na época de inflação alta, os bancos não tinham essa preocupação devido aos ganhos com investimentos, afirma o presidente da Austin Ratings. "Os investimentos no overnight chegavam a render 40%, 45% ao mês", relembra.


Sem esses recursos, os bancos precisaram mudar suas estruturas. A receita com prestação de serviço nos maiores bancos brasileiro, em setembro, foi 143% superior às despesas com pessoal. Esse é um dos indicadores utilizados pelas instituições para medir a eficiência e significa que apenas com esses ganhos, as instituições pagam os funcionários com sobra.


Rodrigues lembra ainda que nos bancos americanos essa parcela chega a 200% e na Europa, apesar de não ser tão grande quanto nos Estados Unidos, também é bem maior que no Brasil.


O diretor da Anefac, no entanto, diz que o avanço está mais rápido do que a inflação. Levantamento feito pelo especialista mostra que entre agosto e novembro deste ano, período em que a questão voltou a chamar atenção, 14 tarifas sofreram redução, seis tiveram o preço médio mantido e a grande maioria, 41, sofreram elevação, sendo 32 acima da taxa de inflação no período analisado.


"Ou os bancos não se preocuparam com a repercussão negativa do caso, ou estão aproveitando para aumentar tudo antes que o governo coloque um limite nisso", argumenta Oliveira.


Ele lembra ainda que o impacto para a pessoa física é maior. Nas 21 tarifas mais utilizadas pelos correntistas, em média, apenas duas delas passaram por redução, enquanto três se mantiveram no mesmo patamar e as 16 restantes sofreram elevação acima da inflação.


A Febraban pondera que tem feito esforços no sentido de ampliar a transparência do processo e iniciou um processo de auto-regulação, que inclui as tarifas. Segundo Vasconcelos, o crescimento das receitas com serviços se deu pelo aumento da base de clientes e da expansão do crédito.


O volume de contas correntes, por exemplo, segundo dados da instituição, aumentou 44% desde 2002, atingindo 103 milhões. Nos últimos dois anos, as transações bancárias cresceram 22%, atingindo a quantidade de 37 bilhões, no fim de 2006.


Ele diz ainda que o impacto das tarifas no bolso das pessoas não é tão grande. O total das receitas com serviços prestados pelos bancos por cliente - que inclui as tarifas - diminuiu em termos reais (descontando-se a inflação) de R$ 202, em 2001, para R$ 184, em 2006.


Valor Econômico

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