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redes sociais 2023

10,1 milhões de brasileiros ganham menos de um salário mínimo por mês

O mercado de trabalho no Brasil registra números estarrecedores – que vão além dos índices de desemprego e subemprego. Segundo levantamento da consultoria IDados, publicado nesta quarta-feira (21/8) no jornal Valor Econômico, o País tem, hoje, 24,1 milhões de pessoas que trabalham por conta própria. Pior: 41,7% desses trabalhadores informais vivem com menos de um salário mínimo por mês. Isso significa que 10,1 milhões dos brasileiros “por conta” têm rendimento inferior a R$ 998 mensais.

É o caso de Thayana Pereira, de 23 anos, que dedicou o fim da adolescência aos estudos, formou-se em Técnica de Enfermagem e se especializou em atendimento de emergência para ambulâncias. Poucas oportunidades surgiram na área, todas exigindo uma experiência que ainda não possui. Sem alternativa, começou a vender tapioca no Centro do Rio de Janeiro há três semanas.

“Continuo procurando emprego na minha área, mas aqui foi uma saída até que apareça. Ajuda a pagar as contas”, diz Thayana, que morava em Maricá, na região metropolitana do Rio, até se mudar recentemente para a capital fluminense em busca da oportunidade que ainda não apareceu. “Passo mais de 11 horas por dia aqui, mas sei que algo melhor vai surgir.”

Thayana é um dos 24,1 milhões de trabalhadores por conta própria do país. Esse tipo de inserção foi o que mais cresceu nos últimos anos – mas está concentrado em atividades que exigem pouca qualificação e geram menor rendimento. São pessoas sem empregador e sem funcionário, que vivem da renda de autônomo.

O levantamento da IDados é inédito e foi feito a pedido do Valor. Um dos recortes da pesquisa aponta existirem hoje 3,6 milhões de trabalhadores por conta própria com rendimento de até R$ 300 por mês – o correspondente a R$ 10 diários. O número equivale a 15% do total de autônomos, que ganham menos que o necessário para comprar uma cesta básica em São Paulo (R$ 493,16).

Segundo Bruno Ottoni, pesquisador do IDados, as ocupações precárias viraram uma válvula de escape para a pouca oferta de empregos. “São trabalhos informais, sem piso salarial e algumas vezes com pessoas sobrequalificadas exercendo. São os trabalhos em que também mais se encontra pessoas em situação de pobreza”, disse o pesquisador.

Os números corroboram a preocupação de especialistas sobre a qualidade dos novos postos de trabalho. Das 3,6 milhões de ocupações geradas desde o segundo trimestre de 2017 – período que marcou o início da recuperação do mercado de trabalho do País –, quase metade (1,7 milhão) foi ocupada por pessoas que passaram a exercer um trabalho por conta própria.

Esse tipo de inserção passou a representar 25,9% dos ocupados no segundo trimestre deste ano, um recorde dentro do horizonte de tempo do levantamento da IDados, que cobre a partir de 2012. Os cálculos são baseados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, que visita 211 mil domicílios por trimestre.

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Em relatório divulgado no início do mês, a consultoria AC Pastore mostrou preocupação com o movimento sobre o ritmo de recuperação da atividade econômica. “Além das evidentes implicações para o crescimento do consumo, nos preocupa a alta dos trabalhadores que não contribuem para a Previdência, podendo ter sérias consequências para a receita previdenciária no futuro”, afirmou o relatório.

Como outros indicadores sociais, os números mostram-se ainda piores na região Nordeste. Dois em cada três trabalhadores por conta própria vivem com menos de um salário mínimo por mês em estados como Piauí, Ceará, Paraíba, Sergipe e Bahia. São 4 milhões de brasileiros nessa situação no Nordeste.

Essas pessoas estão ocupadas em segmentos do comércio e de serviços, como camelôs, ambulantes, pedreiros e motoristas. Uma parcela significativa (2,4 milhões do total) está em atividades agrícolas – em canaviais, por exemplo. Outra parcela está na chamada indústria geral (1,3 milhão de trabalhadores), sobretudo de baixa tecnologia, como peças de roupas ou sapatos.

Para Ottoni, do IDados, o mercado de trabalho vai demorar a oferecer oportunidades melhores. Com a expectativa mediana dos analistas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) abaixo de 1% neste ano, pelo boletim Focus, do Banco Central, essa recuperação não deverá ser vista neste ano.

“Quando projetamos os números do mercado de trabalho, fazemos uma correlação forte de emprego e PIB. Parte dos analistas até está melhorando um pouco a previsão do PIB, por causa da liberação de recursos do FGTS – mas o risco do cenário internacional também se agravou um pouco”, diz o especialista. “Então, a geração de postos formais deve ficar para o próximo ano.”

Com informações do Valor Econômico

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