Banco Central interrompe redução da Selic e recebe críticas
Decisão de manter a taxa em 11,25%, tomada por unamindade no Copom diante da "conjuntura macroeconômica", foi criticada por entidades ligadas ao setor produtivo. Em 12 meses, inflação é de 4,15%, abaixo da meta de 4,5%.
Marcel Gomes - Carta Maior
SÃO PAULO - Quem vive dos altos juros praticados pelo Banco Central brasileiro pode ficar tranqüilo: o Comitê de Política Monetária (Copom) interrompeu a redução da taxa Selic e decidiu mantê-la em 11,25% ao ano.
Em seu lacônico comunicado divulgado nesta quarta-feira (17), os diretores do Banco Central cravaram: "Avaliando a conjuntura macroeconômica, o Copom decidiu, por unanimidade, fazer uma pausa no processo de flexibilização da política monetária e manter a taxa Selic em 11,25% ao ano, sem viés".
A decisão não é uma grande surpresa, pois já vinha sendo aventada nas últimas semanas por analistas de mercado. Mas, ainda assim, surpreendeu a maioria deles, como aponta o mais recente boletim Focus do Banco Central. Nele, com dados apurados no último dia 11, apostava-se na redução da Selic em 0,25 ponto percentual.
Quem não pareceu surpreso foi o ministro Guido Mantega (Fazenda). Em entrevista nesta quarta-feira à Agência Estado, antes do anúncio do Copom, o ministro avaliou que uma eventual manutenção da Selic não prejudicaria o crescimento da economia brasileira.
"É uma nova realidade que estamos vivendo, com a Selic em um patamar bastante razoável, baixo", disse ele. É bom lembrar que desde 2003, início do governo Lula, a taxa já caiu 15,25 pontos percentuais.
Mas essa tendência de queda não amaciou os ânimos de entidades de classe ligadas ao setor produtivo. Mal o Copom anunciou sua decisão, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) lançaram suas críticas.
O presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, procurou desqualificar o argumento padrão para os juros altos - de que eles são necessários para conter a inflação. A meta da inflação para este ano, de 4,5%, por ora não apresenta sinais de ameaça, já que a variação em doze meses até setembro acumula 4,15%.
"É especialmente frustrante, dado que o aumento da inflação nos últimos meses ocorreu por pressões pontuais e não de forma disseminada", afirmou Monteiro Neto. Alencar Burti, presidente da ACSP, seguiu o mesmo caminho, disse que a manutenção da Selic "frustrou os empresários" e que o Banco Central não levou em conta "o alto custo dos juros com a dívida pública".
Pelo menos, a decisão do Banco Central contou com apoio do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças em São Paulo (Ibef-SP). Para o presidente do Conselho de Administração do Ibef-SP, Walter Machado de Barros, o fim da redução dos juros "não teve o objetivo frustrar o crescimento".
"A decisão foi estratégica, a fim de balizar o crescimento da demanda, avaliando os efeitos das reduções anteriores da Selic e seus efeitos no consumo. O IBEF SP encara a decisão como uma pausa necessária", opinou Barros.
Conforme o último boletim Focus, os executivos do mercado financeiro ouvidos pelo Banco Central estimavam que a Selic fecharia o ano em 11% - 0,25 ponto abaixo dos atuais 11,25%. É esperar para ver se o aumento da demanda natural do final de ano não irá conter ainda mais o nosso já contido Banco Central.