Bautista Vidal: governo não tem um projeto nacional
Responsável pela criação do Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool) e considerado um dos pais da biomassa, Vidal avalia que o governo não está preparado para negociar o seu grande trunfo energético: os combustíveis renováveis. Conhecido por suas críticas ferozes a política energética do governo Fernando Henrique Cardoso, Vidal acredita que faltam no governo pessoas competentes que pensem um projeto nacional para o país.
Vidal foi, por três vezes, secretário de Tecnologia Industrial do país e é professor aposentado da Universidade de Brasília (UNB).
Vermelho - Qual a sua avaliação sobre a política energética do governo Lula?
Bautista Vidal - Eu tive uma conversa com Lula porque eu tenho criticado bastante o governo Lula. Ele me chamou lá e eu gostei da conversa. Só que o governo faz o oposto! O governo Lula tem que se rodear de gente capaz. E ele não está rodeado de gente capaz. Ele é meio refém. Então pessoalmente eu não tenho nada contra ele. Mas tenho contra o governo dele. Eles não tem um projeto nacional. Um país riquíssimo como o Brasil, ter tanta gente na miséria... Então eles têm que levar gente competente para, junto com o povo, elaborar um projeto nacional. Aí tudo vai dar certo. É tão simples como isso. Ter um grupo de assessores preparado para passar as informações para ele. Ele é muito inteligente, mas ele não conhece as coisas. É preciso que passem as coisas para ele. Aí ele pode se transformar num grande presidente para o Brasil. E no momento, ele está um péssimo presidente.
Vermelho - O projeto do etanol brasileiro é uma grande oportunidade para o país. Mas o presidente cubano Fidel Castro tem criticado-o alegando que é preciso uma revolução energética, ou seja, uma mudança de conceitos. O senhor concorda com ele?
Bautista Vidal - A crítica do Fidel [Castro] é baseada nesse negócio do Bush [presidente dos EUA George W. Bush] porque eles estão usando o milho, que é ração animal e alimenta o pessoal. Não é o caso brasileiro. Então Fidel tem razão, mas se refere aos Estados Unidos e não ao Brasil. Ele não fala no Brasil. Ele fala no Etanol. Ele não difere o trabalho brasileiro do americano. Há uma confusão. Uma falta de informação. Eu inclusive estou marcando uma reunião com o embaixador de Cuba para que ele fale para o Fidel isso. Ele tá equivocado. Tá generalizando quando se refere aos americanos, mas não ao Brasil.
Vermelho - Depois de anos paralisada, a Comissão Nacional de Política Energética (CNPE) decidiu retomar a construção de Angra 3. O que o senhor achou da decisão?
Bautista Vidal - Barbaridade. A energia nuclear não é de maneira nenhuma o caminho. Muito menos para o Brasil que tem essa potencialidade toda do sol. A energia nuclear tem duas coisas terríveis. Uma é o resíduo. Um miligrama de plutônio mata a pessoa e é um monstro de um milhão de cabeças e ninguém sabe o que fazer com esse resíduo. Não se consegue destruir. Ele fica aí durante 500 mil anos. Então isso é uma barbaridade. Segundo é que a tecnologia é toda estrangeira. Então o estrangeiro vai dominar o Brasil.
Vermelho - E as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas com relação a reciclagem desses resíduos nos Estados Unidos?
Bautista Vidal - É porque eles não tem a maravilha que o Brasil tem das plantas altamente conversoras de energia solar em energia química, como a cana, a mandioca, eles não tem. Então eles têm que usar essas porcarias mesmo.
Vermelho - O Brasil ainda corre o risco de um apagão?
Bautista Vidal - Sim. Eles venderam o sistema elétrico, a distribuição, aos americanos. E eles não estão investindo. Estão guardando o dinheiro pra resolver o problema deles, das empresas falidas norte-americanas que vieram pra cá, se apoderar da nossa renda. Essa área é muito terrível. Nós entregamos aos estrangeiros o controle do sistema hidrelétrico que era totalmente brasileiro. Foi o Fernando Henrique Cardoso, esse bandido traidor.