Corte de 0,5 ponto na Selic garante que PIB crescerá 4,8%, diz economista
A economista da Tendências Consultoria, Ana Carla Abraão Costa, disse em entrevista ao jornalista Paulo Henrique Amorim (www.conversa-afiada.ig.com.br) nesta quinta-feira (19) que o ano de "2007 já está garantido" (aguarde o áudio).
"A atividade econômica, principalmente para 2007, está dada. Eu acho que não vai ter nenhum impacto... A atividade está dada, a gente vai ter um bom ano. Nós estamos com uma projeção de crescimento de 4,8%. É um crescimento vigoroso, não há como negar", disse Ana Carla.
Na reunião que terminou nesta quarta-feira (18), o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu cortar a taxa Selic em 0,5 ponto.
Ana Carla disse que apesar de haver uma pressão de alimentos e a demanda doméstica muito aquecida, o câmbio e as importações favoreceram o corte de 0,5 ponto.
A economista disse que o resultado já era esperado pelo mercado. A aposta dela é que a taxa Selic feche o ano em 10,75%.
Com esse corte de 0,5 ponto, o Brasil deixa de ter a maior taxa real de juros do mundo. "Essa é a boa notícia. E, na verdade, uma trajetória um pouco mais suave talvez garanta que a gente se mantenha dessa forma", disse Ana Carla.
Leia a íntegra da entrevista com Ana Carla Abraão Costa:
Paulo Henrique Amorim - O Copom cortou a em 0,5 ponto percentual, agora está em 11,5% ao ano. Eu vou conversar com Ana Carla Abraão Costa, economista da Tendências. Com vai Ana Carla, tudo bem?
Ana Carla Abraão Costa - Tudo bem, Paulo Henrique, bom dia.
Paulo Henrique Amorim - Bom dia. Ana Carla, foi uma decisão por quatro a três, quase que vai para a prorrogação.
Ana Carla Abraão Costa - É verdade.
Paulo Henrique Amorim - O que você acha dessa decisão?
Ana Carla Abraão Costa - O Compom se mostrou mais dividido do que na reunião passada. Isso já era esperado, Paulo Henrique, porque a gente começou a ver alguns sinais de uma inflação numa trajetória ascendente. E pode ser aí que algum membro do Compom, pode ser não, algum membro do Copom que tinha votado por 0,5 ponto na reunião anterior, decidiu ser mais cauteloso nessa reunião.
Paulo Henrique Amorim - Esses sinais de trajetória ascendente da inflação você localiza onde?
Ana Carla Abraão Costa - Bom, a gente tem uma pressão de alimentos, que sem dúvida alguma está vinculado aos preços internacionais que subiram. Então a gente tem um choque de oferta que aconteceu nesse segmento de preços, mas de toda forma, a gente tem, por outro lado, uma demanda doméstica muito aquecida. Essa demanda mais aquecida incita alguma preocupação, algum cuidado em relação a pressões futuras de preços. Então a trajetória ascendente, por um lado, tem uma explicação mas a gente não consegue eliminar completamente eventuais pressões de preços advindas dessa demanda mais aquecida.
Paulo Henrique Amorim - Bom, você está dando motivos para ter cortado 0,25. Agora, que motivos você daria para que a maioria fizesse esse corte de 0,5 ponto percentual?
Ana Carla Abraão Costa - Ainda tem o câmbio favorecendo, Paulo Henrique. O câmbio e as importações estão ainda contando ponto a favor desses cortes maiores. Mas a dúvida está justamente até quando o câmbio dá conta dessas pressões de preços e é em função disso que a gente acredita que a próxima reunião essa divisão seja inversa, a gente tenha mais votos por 0,25 ponto e menos por 0,50 ponto.
Paulo Henrique Amorim - E você acha, de qualquer maneira, que a gente chega ao fim do ano com que Selic?
Ana Carla Abraão Costa - 10,75%. A minha aposta são mais três cortes de 0,25 ponto.
Paulo Henrique Amorim - E isso significa que o Brasil não é mais a maior taxa de juros real do mundo?
Ana Carla Abraão Costa - Isso, essa é a boa notícia. E, na verdade, uma trajetória um pouco mais suave talvez garanta que a gente se mantenha dessa forma, saindo do topo desse ranking de uma forma mais definitiva.
Paulo Henrique Amorim - E qual a sua visão do impacto que esse corte de 0,5 ponto pode vir a ter sobre a atividade econômica?
Ana Carla Abraão Costa - Eu acho que a atividade econômica para 2007 está dada, Paulo Henrique. Acho que não vai ter nenhum impacto, embora tenha sempre aqueles que... principalmente o setor industrial que acaba reclamando dessa...
Paulo Henrique Amorim - A Fiesp tem uma declaração, a mesma há mais ou menos 10 anos.
Ana Carla Abraão Costa - É verdade, independente da magnitude e do sentido do corte, normalmente os argumentos são sempre os mesmos.
Paulo Henrique Amorim - Mudam os adjetivos.
Ana Carla Abraão Costa - Exatamente.
Paulo Henrique Amorim - Ficam os substantivos.
Ana Carla Abraão Costa - Exatamente. Mas de toda forma, o impacto, a atividade está dada a gente vai ter um bom ano.
Paulo Henrique Amorim - O que você chama de um bom ano para a Tendências?
Ana Carla Abraão Costa - Nós estamos com projeção de crescimento de 4,8%. É um crescimento vigoroso, não há como negar. É claro que a gente não vai ter um crescimento chinês e nem se esperaria isso da economia brasileira. Mas de toda forma, independente da trajetória da Selic para esse ano, 2007 já está garantido.
Paulo Henrique Amorim - Muito obrigado, Ana Carla, é sempre um prazer falar com você.
Ana Carla Abraão Costa - O prazer é todo meu.
www.conversa-afiada.ig.com.br