Esquema de fraude em Brasília se estendeu a banco paulista
Acusados de participação em esquema de desvio de dinheiro do BRB (Banco de Brasília) disseram em depoimentos que parte do esquema se repetiu na Nossa Caixa, o banco oficial do Estado de São Paulo, informa nesta segunda-feira reportagem do jornal Folha de S. Paulo. A Nossa Caixa, está há quase quinze anos sob o comendo do PSDB.
A Folha teve acesso à integra dos depoimentos dos presos na Operação Aquarela, comandada pela Polícia Civil do Distrito Federal.
Segundo a reportagem, cinco dos 20 acusados de integrar o esquema confirmaram nos depoimentos que a ONG Caminhar, apontada como pivô da fraude, recebeu nos últimos dois anos cerca de R$ 8 milhões para realizar pesquisas para medir a satisfação dos clientes do BRB e da Nossa Caixa com o serviço de auto-atendimento --três disseram que as pesquisas eram todas forjadas.
Operação Aquarela
Na Operação Aquarela, foram expedidos mandados de prisão contra 20 pessoas. O então senador Joaquim Roriz (PMDB-DF) foi acusado de quebra de decoro após a divulgação de conversas telefônicas que o mostraram negociando a partilha de cerca de R$ 2,2 milhões com o ex-presidente do BRB Tarcísio Franklin de Moura. A partilha seria feita no escritório do empresário Nenê Constantino, presidente do Conselho de Administração da Gol.
O ex-governador negou as acusações e disse que pediu um empréstimo de R$ 300 mil a Constantino --quantia descontada de um cheque de R$ 2,2 milhões do empresário. O dinheiro, segundo ele, teria sido utilizado para comprar uma bezerra e ajudar um primo.
Roriz renunciou ao mandato parlamentar no último dia 4 para escapar de um processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética do Senado. As gravações sobre a partilha do dinheiro foram realizadas durante a Operação Aquarela.
As denúncias contra Roriz ganharam mais um elemento extra com a publicação de uma reportagem da revista "Veja", informando que ele teria utilizado parte dos R$ 2,2 milhões para subornar juízes do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Distrito Federal em processo contra ele nas eleições do ano passado.
Fonte: Folha Online
Veja abaixo a íntegra da matéria publicada na Folha de S. Paulo:
Presos dizem que fraude se estendeu à Nossa Caixa
Investigados na Operação Aquarela afirmam que forjaram pesquisa sobre o banco
Nossa Caixa nega ter pedido levantamento, mesmo com a confirmação de acusados, entre eles ex-secretário-geral de associação de bancos
Marcelo Ferreira - 14.jun.2007/"Correio Braziliense"![]() |
Policiais civis apreendem documentos e computadores do BRB durante a Operação Aquarela |
ANDRÉA MICHAEL
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Acusados de participação em fraude que pode ter desviado mais de R$ 50 milhões dos cofres do BRB (Banco de Brasília) disseram em depoimentos que parte do esquema se repetiu na Nossa Caixa, o banco oficial do Estado de São Paulo.
A Folha teve acesso à integra dos depoimentos dos presos na Operação Aquarela, da Polícia Civil e do Ministério Público do Distrito Federal.
Cinco dos 20 acusados de integrar o esquema confirmaram nos depoimentos que a ONG Caminhar, apontada como pivô da fraude, recebeu nos últimos dois anos cerca de R$ 8 milhões para realizar pesquisas para medir a satisfação dos clientes do BRB e da Nossa Caixa com o serviço de auto-atendimento. Três disseram que as pesquisas eram todas forjadas.
Em reportagem publicada no dia 27 de junho, a Folha havia revelado as suspeitas contra o banco paulista baseadas em relato de investigadores.
Entre os que confirmam os contratos estão o presidente da ONG, André Luís de Souza Silva, e o secretário-geral da Asbace (Associação Nacional de Bancos) entre 1980 e 15 de junho, Juarez Lopes Cançado.
Outros três investigados, dois deles ex-funcionários da ONG, afirmaram que preencheram eles próprios todos os questionários de pesquisas que teriam de ser feitas com clientes do BRB e da Nossa Caixa.
"A declarante às vezes comparecia ao apartamento de André Luís [dono da Caminhar] (...) onde preenchia questionários de supostas pesquisas de campo, às quais não existiam e se referiam ao banco Nossa Caixa e ao BRB. (...) [Ela] se recorda de já ter preenchido fichas de pesquisa, do Banco Nossa Caixa, relativa a diversas cidades, e que tais pesquisas eram feitas aqui mesmo em Brasília", diz a transcrição do depoimento de Jeovana Drazdauskas Silva, que começou a trabalhar na ONG em 2006.
Ela disse à polícia e aos promotores de Justiça que a tarefa de forjar respostas dos supostos clientes cabia a ela, ao namorado, à irmã e ao cunhado.
"Em relação a bancos do Estado de São Paulo, chegaram a preencher mais de 70 mil formulários, (...) sendo que André [dono da ONG] supervisionava o trabalho e entregava aos funcionários os gabaritos referentes às respostas que deveriam ser preenchidas em cada formulário", disse às autoridades o namorado de Jeovana, Fabrício Ribeiro dos Santos.
Anderson Figueiredo Barros, contratado pela ONG para organizar questionários, disse no depoimento que a pesquisa para a Nossa Caixa seria feita em quatro fases e, ao analisar duas delas, havia notado a fraude.
"Comparando os dados encaminhados por André [da ONG] em relação a primeira e a segunda "onda" [etapa] de pesquisas junto ao BNC [banco Nossa Caixa], o declarante observou indícios de fraude na pesquisa; declarante esclarece que havia respostas repetidas nos questionários encaminhados apresentando índice anormal de homogeneidade nas respostas", diz a transcrição de seu depoimento.
Confrontado com trechos dos depoimentos, o presidente da Nossa Caixa, Milton Luiz de Melo Santos, também presidente da Asbace, negou que o banco ou a associação tenham contratado, direta ou indiretamente, a Caminhar para realizar as pesquisas.
Apesar disso, o presidente da ONG e o secretário-geral da Asbace até o estouro do escândalo confirmam os contratos.
"Os valores contratados com a ONG Caminhar para a realização das pesquisas de mercado são de aproximadamente R$ 8 milhões", diz o depoimento de Juarez Lopes Cançado, secretário-geral da Asbace até junho. A associação tem cerca de 75% da renda oriunda de contratos com a Nossa Caixa.
O dono da Caminhar também confirma: "A única pesquisa que a Caminhar [fez em SP] foi essa acima referida, no Banco Nossa Caixa; essa pesquisa teve três fases, recebendo por cada fase aproximadamente R$ 2 milhões ou R$ 3 milhões", diz o depoimento de André Luís, que detalha: "As fases representavam a realização de pesquisa em 80 agências, totalizando 240 agências ao final das três fases".
O Ministério Público do Distrito Federal afirmou que já comunicou ao Gaeco, braço do Ministério Público em São Paulo responsável pelo combate ao crime organizado, as suspeitas sobre a Nossa Caixa.