Falta de qualificação é problema para 82% dos desempregados
A pesquisa Demanda e Perfil dos Trabalhadores Formais em 2007 considerou informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Nesse trabalho, a indústria é o setor com maior déficit de trabalhadores qualificados ou com experiência profissional. A estimativa de oferta de mão-de-obra é de 329.035 pessoas, mas a expectativa de geração de empregos formais é de 445.628 vagas. Portanto, as empresas industriais ficarão com 116.593 vagas ociosas.
Apesar desses números, o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, comentou que não há necessidade de importação de mão-de-obra. "Falta gente preparada, mas o cenário é de excesso de mão-de-obra", disse. Nesse cenário, defendeu a necessidade de planejar um modelo de desenvolvimento econômico que equilibre a oferta de trabalhadores e a geração de empregos. Disse que um perfil exportador de commodities não vai dar empregos à classe média.
Pochmann sugeriu a criação de um sistema nacional integrado com foco na formação profissional e na intermediação de empregos, combinando oferta e demanda. O exemplo citado foi o da requalificação dos trabalhadores da indústria naval no Japão dos anos 70. Eles foram preparados para a produção de eletroeletrônicos.
Ele também afirmou que as empresas privadas não investem em qualificação porque não há confiança mútua entre empregadores e empregados. Esse problema é revelado pela alta rotatividade (42%) do mercado de trabalho, taxa duas vezes maior que a da economia americana.
Carências
De acordo com o estudo do Ipea, este ano haverá 9,13 milhões de pessoas procurando emprego, mas, nesse grupo, apenas 18,3% (1,67 milhão) têm qualificação ou experiência profissional. O perfil da demanda de emprego formal nos setores com carência de mão-de-obra tem, para 2007, as seguintes projeções de médias ponderadas: 33,8 anos de idade, 9,3 anos de escolaridade e R$ 942,8 de remuneração.
Segundo o Ipea, há maior demanda por profissionais homens (63%), não negros (58%), com idade entre 31 e 37 anos, que tenham escolaridade entre 8,2 e 13,1 anos, nas áreas industriais (34%), ou de atendimento público (27%), com remuneração entre R$ 640 (indústrias têxteis e de calçados) e R$ 1.916 (setor financeiro).
Em uma análise genérica, considerando apenas os números absolutos e desprezando regiões e setores, o levantamento do Ipea mostrou que o país tem mais profissionais qualificados que vagas disponíveis. Neste ano, a previsão é a de serem criadas 1,59 milhão de vagas, mas há 1,67 milhão de trabalhadores qualificados. O saldo entre a oferta de mão-de-obra e a demanda é positivo em pouco mais de 84 mil pessoas.
Pochmann também revelou que, em termos regionais, o crescimento e a descentralização desenharam uma nova geo-economia do emprego no Brasil. A região Norte é a que têm a maior carência de profissionais qualificados. Esse quadro também existe no Sul e no Centro-Oeste. No Nordeste e no Sudeste, a situação é oposta, com excesso de mão-de-obra qualificada.
Fonte: Valor Econômico