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CSC fora da CUT: um ciclo se encerra

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Por João Batista Lemos e Wagner Gomes
O dia 15 de outubro de 2007 entrará para a história do movimento sindical brasileiro. Nesta data, aproximadamente 25% dos sindicatos, pertencentes à Corrente Sindical Classista (CSC), que hoje compõem o quadro de entidades sindicais filiadas à Central Única dos Trabalhadores (CUT), iniciarão, ao lado de outras vertentes do movimento sindical brasileiro, a constituição de uma nova central sindical no Brasil. A decisão será anunciada num ato político na cidade de São Paulo em cumprimento à deliberação do 7° Encontro Nacional da CSC ocorrido entre os dias 28 e 30 de setembro de 2007 em Salvador (BA), com a presença de mais de 600 dirigentes sindicais de todo o país.




A decisão representará a entrada do movimento por uma central classista e democrática - integrado também por federações, por sindicatos independentes do campo e da cidade e pelo Sindicalismo Socialista Brasileiro (SSB), tendência sindical sob a influência do PSB que também anunciou a sua saída da CUT - numa fase decisiva. A comissão organizadora da central também anunciará, no dia 15 de outubro, as deliberações sobre o estatuto e o nome da nova entidade, que será criada oficialmente no seu primeiro congresso nacional entre os dias 12 e 14 de dezembro em Belo Horizonte (MG).




Perda de perspectiva




A CSC nasceu oficialmente em abril de 1988, quando a evolução do quadro político já provocava profundas alterações na forma de atuação das duas centrais sindicais então existentes - a CUT e a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT). As memoráveis batalhas entre conservadores e progressistas na Assembléia Nacional Constituinte de 1988 retrataram bem aquela evolução. A CSC aderiu à CUT em 1991 e rapidamente conquistou o posto de segunda tendência da central - a primeira é a Articulação Sindical. No último Concut, liderou uma chapa que disputou a direção cutista que obteve cerca de 26% dos votos.




A decisão de ingressar na CUT foi tomada em congresso da CSC realizado entre os dias 9 e 11 de março de 1990, no Rio de Janeiro, com a participação de 2.105 delegados de 584 sindicatos. A incorporação da CSC aumentou a representatividade da CUT, realçando um perfil mais pluralista e reforçando a vinculação entre luta econômica e luta política. Já em 1989, a CUT teve uma participação destacada na campanha da Frente Brasil Popular, que quase levou Luis Inácio Lula da Silva à Presidência da República. À época, o entendimento era o de que a unidade do movimento sindical passava pelo fortalecimento da CUT. Mas no início do anos 90 a CSC não acompanhou a força majoritária da CUT, a Articulação Sindical, no "entendimento nacional" proposto pelo governo Collor.




Mais à frente, já com Fernando Henrique Cardoso (FHC) na presidência da República, novamente a CSC divergiu da Articulação Sindical quando o presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva (Vicentinho), participou das negociações com o governo e defendeu o famigerado acordo da Previdência Social. A CSC avaliou na ocasião que uma das causas era a crise do socialismo, que repercutiu ideologicamente na perda de perspectiva de alguns setores do movimento sindical. O país passava por uma crise econômica; era o auge da reestruturação produtiva e o desemprego castigava os trabalhadores.




Acirramento das divergências




Começava ali uma fase de divergências políticas entre as duas principais tendências cutistas, que chegaria ao limite no 9º Concut - realizado em 2006. Para atender aos acordos internos, a tendência majoritária agiu à margem da legalidade da central para deslocar a CSC do comando da CUT-BA e enfraquecê-la em outros Estados. E se recusou a manter o cargo de vice-presidente da CUT em mãos classistas.




A atitude da Articulação Sindical comprometeu seriamente a unidade da central. A questão não era meramente sindical.Tratava-se de consolidar uma frente política no interior da CUT, tendo em vista objetivos estratégicos maiores - destacadamente a defesa de um novo projeto nacional de desenvolvimento, fundado na soberania e na valorização do trabalho. A nova configuração da direção cutista, no entanto, sufocava ainda mais essas idéias.




Esse passo dado no 9º Congresso da central foi decisivo para o acirramento das divergências entre as duas principais tendências cutistas. Entendemos que a CUT, apesar de seu histórico de combatividade, cultiva seus vícios históricos. A nova dinâmica do movimento sindical e os estreitos espaços para a atuação de outras tendências, provocados pelo avanço do hegemonismo da Articulação Sindical e o aumento da restrição à democracia interna, levam a CSC à constatação de que nossa participação na central chegou ao limite.




Horizontes estratégicos




Com este pensamento, estamos fundando uma central com perfil plural e democrático como a forma mais adequada de inserir as propostas da CSC no debate que hoje se desenvolve no país. Não seremos uma central de oposição à CUT - achamos que esta central ainda tem um papel importante a cumprir. Entendemos que podemos desenvolver parcerias importantes com a CUT, que ainda é uma das mais importantes centrais do Brasil.  Não se trata, portanto, de um rompimento em todas as linhas. Nossa decisão é fruto de um amadurecido debate e de uma necessidade histórica.




O cenário de mudanças progressistas que emerge na América Latina abre espaços para a formação de um pólo com condição de ampliar e unir mais o movimento sindical. Para a CSC, a unidade do movimento sindical hoje passa pela construção de uma ação conjunta das centrais. Para tanto, entendemos que este é o momento de convocarmos uma nova Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat). E acreditamos que esse novo pólo pode descortinar horizontes estratégicos e apontar para os trabalhadores, na batalha antiimperialista e anticapitalista, o caminho da plena superaração do neoliberalismo.




*Coordenador nacional da CSC e secretário sindical do Comitê Central do PCdoB.

** Vice-presidente nacional da CUT e membro da coordenação nacional da CSC.

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