Que azar é esse?! ...
Se
decisão judicial, muitas vezes marcada por equívocos, erros e até
vícios, é para ser cumprida, imagine o resultado das urnas, que precisa
ser respeitado e, acima de tudo, analisado, para que se possa
identificar os motivos que levaram ao sucesso e ao fracasso.
Evidentemente, o DEM, que passa a administrar Salvador a partir de
janeiro, e o PT, derrotado no segundo turno, farão avaliações e estudos
para saber onde acertaram e erraram.
Indiscutivelmente,
a população sai dividida da eleição municipal. Afinal, uma diferença de
pouco mais de 94 mil votos em um universo de cerca de 1,8 milhão de
eleitores é prova inconteste de que a cidade está repartida em dois
projetos bem distintos. Tanto quem votou em ACM Neto (DEM) quanto em
Nelson Pelegrino (PT), fica na expectativa do que poderá acontecer nos
próximos quatro anos.
Salvador
vem de duas gestões e quatro mandatos desastrados, que a deixaram
praticamente paralisada por 16 anos, do ponto de vista do
desenvolvimento sustentável, da qualificação do ambiente urbano e da
transformação da cidade em um espaço onde seja possível florescer a
cidadania. Foram oito anos conturbados de Antônio Imbassahy, que começou
no extinto PFL e depois passou para o PSDB, e mais oito anos
insuportáveis de João Henrique, eleito pelo PDT, depois PMDB e hoje PP.
Sem falar em mais quatro anos de Lídice da Mata, cujo governo foi
sabotado literalmente pelo então todo poderoso ACM, já falecido, avô do
prefeito eleito, e outros quatro anos terríveis do radialista Fernando
José.
Resumindo,
são 24 anos que pouco ou quase nada acrescentaram em termos econômico,
social, da infraestrutura e da evolução urbana. Ao longo desse tempo, os
problemas acumularam, multiplicaram e infernizam cada vez mais o
cidadão, inviabilizando a vida na cidade. Conhecida internacionalmente
por contar com a proteção de todos os santos, famosa pelos cantos,
encantos e axé, Salvador patina na busca de um caminho capaz de
conduzi-la a um destino que combine desenvolvimento com justiça social.
ACM
Neto, pelo histórico político, partido que integra e interesses que
defende, está bem distante de ser o gestor em condições de promover a
felicidade cidadã. Até porque, o grupo do qual pertence sempre usou a
política como oportunidade para fazer negócios. Nada mais do que isso.
Por duas vezes, em 2008 com Walter Pinheiro, e agora, com Nelson
Pelegrino, Salvador perdeu a oportunidade de ser efetivamente inserida
em um projeto vitorioso que tem revolucionado o Brasil, transformando
indivíduos em cidadãos, e desenvolvido a Bahia. Em ambas ocasiões,
fatores conjunturais contribuíram decisivamente para o fracasso. Para
alguns, puro azar. Será verdade? As urnas, sempre mandam recados diretos
e claros.
* Rogaciano Medeiros é jornalista